Mercosul e União Europeia: Acordo estratégico traz oportunidades e riscos para o Brasil antes da assinatura prevista para janeiro de 2026.

Neste sábado, a cidade de Foz do Iguaçu sedia a Cúpula do Mercosul, um evento crucial que reúne os líderes dos países membros do bloco sul-americano. Inicialmente, a assinatura de um acordo de livre comércio com a União Europeia estava programada para esta data, mas foi adiada para janeiro de 2026, a pedido da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni. Esse tratado, resultado de mais de duas décadas de negociações, é considerado um dos mais ambiciosos já firmados pelo Mercosul e promete provocar uma mudança significativa nas relações comerciais entre as duas regiões.

O acordo busca aumentar a inserção do Mercosul no mercado europeu, algo que é crucial dado que a América Latina atualmente representa apenas cerca de 3% do comércio internacional. Dentro dos termos do tratado, produtos do Mercosul como carne bovina e aves terão tarifas reduzidas ou zeradas, permitindo um acesso facilitado ao mercado europeu. Porém, a facilitação do comércio também pode implicar em grandes desafios. Embora a redução de tarifas seja benéfica, a preocupação dos países europeus em relação à possível “inundação” de produtos agrícolas de países como Brasil e Argentina é um ponto de tensão.

Especialistas como Flávia Loss, doutora em relações internacionais, destacam que, apesar das vantagens econômicas, o acordo pode ser prejudicial para a indústria sul-americana, que já enfrenta um processo de desindustrialização. Com a concorrência europeia aumentando, há um risco real de que as indústrias locais possam perder competitividade. A proposta de formação de joint ventures, no entanto, poderia ser uma estratégia viável para manter a saúde das indústrias brasileiras e argentinas frente à competição externa.

A assinatura desse acordo torna-se ainda mais relevante em um contexto geopolítico amplamente transformado, marcado pela crescente rivalidade entre Estados Unidos e China. Para a União Europeia, a necessidade de diversificar suas parcerias comerciais está se tornando urgente, e o aprofundamento das relações com a América Latina é visto como um passo estratégico. O que restará a definir é como o Brasil e os demais membros do Mercosul poderão maximizar os benefícios desse acordo, ao mesmo tempo que enfrentam os riscos consideráveis ao desenvolvimento econômico e industrial da região.

Assim, o futuro do Mercosul na arena internacional se desenha em um cenário complexo, onde os benefícios e desafios se entrelaçam, demandando uma abordagem cautelosa e estratégica de seus membros para equilibrar as necessidades internas com as exigências externas.

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