A análise dos especialistas aponta dois fatores principais que influenciaram o comportamento dos investidores: o “shutdown” do governo americano e preocupações persistentes em torno do risco fiscal no Brasil. O impasse orçamentário nos Estados Unidos, que já se arrasta por três dias, provocou incertezas no mercado, especialmente com o cancelamento das divulgações dos dados de emprego, conhecidos como “payroll”. Essa paralisação nos serviços públicos comprometeu a atualização das estatísticas oficiais, uma vez que o Bureau of Labor Statistics (BLS) não conseguirá disponibilizar as informações enquanto o “shutdown” estiver em vigor.
Esses dados são fundamentais para que os investidores analisem a possibilidade de cortes nas taxas de juros do Federal Reserve. Um “payroll” robusto geralmente indica uma economia aquecida, o que diminui as chances de redução da taxa, enquanto um relatório fraco reforça tais expectativas. Observadores de mercado, no entanto, acreditam que é quase certo que o Fed promoverá cortes nas duas próximas reuniões, agendadas para 29 de outubro e 10 de dezembro. Dados do CME Group indicam que as chances de uma redução de 0,25 ponto percentual nas reuniões são de 96,7% e 84,9%, respectivamente.
No campo econômico brasileiro, as preocupações sobre uma deterioração dos resultados fiscais têm ganhado destaque, especialmente após a recente aprovação da isenção do Imposto de Renda para pessoas que ganham até R$ 5 mil. Especialistas apontam que essa medida pode elevar os riscos inflacionários, uma vez que incentiva o aumento do consumo. A Verde Asset, em uma comunicação dirigida a seus cotistas, descreveu o cenário atual como um “acelerador fiscal com freio monetário”, caracterizando uma situação em que o governo amplia gastos enquanto o Banco Central aumenta as taxas de juros para controlar a inflação.
Nesse contexto, os juros futuros permaneceram elevados, com prêmios significativos nos contratos de longo prazo. Christian Iarussi, sócio da The Hill Capital, sugere que esse movimento é uma resposta do mercado à expectativa de novas renúncias tributárias e gastos públicos, como a isenção do Imposto de Renda. “Nem mesmo os dados de produção industrial, que superaram as expectativas, conseguiram aliviar a pressão. O que se viu foi uma simples mudança nas apostas sobre o início dos cortes de juros, deslocando-as de janeiro para março”, explicou.
Para Bruno Shahini, especialista em investimentos, o recuo do dólar foi moderado, em consonância com a desvalorização da moeda americana em termos globais. A situação envolveu um dia de volatilidade controlada, impulsionada pelo prolongamento do “shutdown” nos Estados Unidos, que adiou a divulgação de indicadores importantes. Os dados locais de produção industrial acima do esperado, juntamente com uma taxa Selic elevada, ajudaram a oferecer suporte ao real.