De acordo com Sandro Cimatti, sócio-fundador da consultoria responsável pelo estudo, as oportunidades de investimento nesse setor surgem a partir do reconhecimento de que as empresas podem dobrar suas receitas por meio de melhorias na tecnologia das plataformas, como a inclusão de mais filtros e ferramentas de interação capazes de atrair mais usuários pagantes. Atualmente, cerca de 25% dos usuários utilizam serviços pagos, e no Brasil, há 18 milhões de pessoas que utilizam esse tipo de serviço, sendo 4,4 milhões de assinantes de planos pagos.
A ampliação das chances de conhecer pessoas fora do círculo social ou do local onde se vive é uma das principais vantagens dos aplicativos, segundo Cimatti. Ele acredita que se os algoritmos funcionassem de maneira mais eficiente e se houvesse uma interface de bate-papo mais fluida, mais pessoas estariam dispostas a pagar pelos serviços.
Apesar da maioria dos usuários ainda utilizarem as ferramentas gratuitas, as grandes empresas do setor já estão lucrando consideravelmente. Apenas no segundo trimestre deste ano, o grupo Bumble Inc, proprietário do aplicativo homônimo em que só as mulheres podem iniciar conversas, teve um aumento de 18,5% nas receitas em relação ao mesmo período do ano passado, totalizando US$ 259,7 milhões (R$ 1,3 bilhão) entre abril e junho. O número de usuários pagantes cresceu 28% em comparação com o trimestre anterior, totalizando 2,5 milhões de pessoas. No Brasil, o custo é a partir de R$ 29,90 por semana.
Com base nesses dados, o JP Morgan, em um relatório, aumentou o preço-alvo das ações do Grupo Match, dono do popular aplicativo Tinder, para US$ 60 até o final de 2024. O banco prevê um crescimento de 9% na receita para o próximo ano. Segundo o relatório, o Match é líder no mercado de namoro online, possuindo aproximadamente 50% dos usuários globais de namoro em suas diversas marcas.
O Match conta com 15,6 milhões de usuários pagantes em todo o mundo e recentemente lançou nos Estados Unidos uma assinatura chamada Tinder Select, disponível apenas para 1% dos clientes, com o valor mensal de US$ 499 (R$ 2.500). Esse plano permite que os usuários busquem pessoas e enviem mensagens diretamente, mesmo sem haver ocorrido um “match” anteriormente.
Outro aplicativo que se destaca é o The League, adquirido pelo Grupo Match em 2022. Esse app é exclusivo para “solteiros ambiciosos com carreira” e só é possível se cadastrar por meio de convite. O custo é de US$ 1 mil (R$ 5 mil) por semana, segundo a Bloomberg. A plataforma realiza uma triagem rigorosa, o que não é comum em outros aplicativos do gênero.
Segundo Joshua Montenegro, assessor de investimentos da Ável, investir nesse segmento é uma escolha natural, já que as novas gerações estão acostumadas a usar o celular como principal meio para conhecer novas pessoas e iniciar relacionamentos. Montenegro destaca que a pandemia acelerou a digitalização de diversos setores, incluindo os relacionamentos. Os jovens da geração Z, atualmente entre 15 e 20 anos, são os principais consumidores desse tipo de serviço.
Além disso, o setor também se beneficia do chamado “Fear of Missing Out” (Fomo), que é o medo de perder algo que todo mundo está fazendo ou acessando. O medo de que a alma gêmea esteja em um aplicativo no qual o indivíduo não está cadastrado pode levar os consumidores a acumularem diferentes assinaturas.
No entanto, vale ressaltar que esses aplicativos ainda enfrentam desafios quanto à satisfação dos clientes. O Net Promoter Score (NPS), indicador para medir a satisfação dos usuários, possui uma média de 16 para esses aplicativos, sendo considerado bom quando atinge o nível de 70. Um dos problemas identificados é a falta de verificação dos perfis, o que leva a casos de “catfishing”, quando usuários se passam por outras pessoas. Essa questão poderia ser evitada com o uso de tecnologias como o blockchain ou verificação social, já utilizada por aplicativos de transporte para confirmar a identidade dos motoristas parceiros.
Apesar desses desafios, muitas pessoas ainda acreditam que a tecnologia é uma aliada na busca por um parceiro romântico. Portanto, o setor de aplicativos de relacionamento continua atraindo investidores interessados em seu potencial de lucratividade.