Durante uma cerimônia pública, o presidente não fez menção ao prêmio, o que aponta para uma estratégia de cautela. Ao longo do dia, tanto a Presidência da República quanto o Itamaraty se mostraram reticentes em confirmar se haveria algum comunicado oficial sobre o tema. Isso contrasta com posturas de anos anteriores, quando o governo brasileiro se manifestou em pelo menos quatro ocasiões a respeito de laureados com o Nobel da Paz, por meio de notas do Ministério das Relações Exteriores.
A situação é mais complicada do que aparenta. Celso Amorim, atual assessor especial da Presidência e ex-chanceler, comentou que a escolha do Nobel tem uma conotação política, levantando preocupações sobre possíveis consequências, como uma invasão à Venezuela. Ele acredita que a visão do Comitê Nobel é demasiadamente “europeia” e distante da realidade sobre a qual estão se debruçando. Apesar de reconhecer as qualidades pessoais e morais de Machado, Amorim expressou que o Brasil deve estar mais preocupado com os efeitos que essa premiação pode ter no processo de pacificação na Venezuela.
A possibilidade de um pronunciamento governamental é contestada por diversas vozes dentro do Planalto. Amorim destacou que a reação de alguns membros do governo Trump, que criticaram a escolha do Nobel, reflete a prioridade política que está sendo dada ao evento. A discordância acerca da premiação é palpável entre diplomatas brasileiros. Um deles mencionou que um apoio a Machado poderia irritar Maduro, complicando ainda mais a já delicada relação entre os dois países. Embora as relações diplomáticas ainda sejam mantidas, Lula e Maduro não se falam desde que questionaram publicamente a legitimidade da reeleição do venezuelano, que apresenta indícios de fraude.
Um embaixador observou que a decisão sobre o Nobel não agradou nem ao regime de Maduro nem à Casa Branca, criando um panorama de tensões diplomáticas. Outro diplomata acentuou que a retórica de Machado, que favorece ações norte-americanas e intervenção, não é vista como um caminho viável para estabilizar a crise na Venezuela. Em momentos em que um diálogo aberto é mais necessário do que nunca, as interações entre os envolvidos se tornam cada vez mais urgentes e delicadas.