Especialistas, como a professora Simone Deos da Unicamp, ressaltam que, ao contrário da grave hiperinflação das décadas passadas, o cenário atual é caracterizado por uma inflação moderada, embora complexa devido à variação de preços de commodities e fatores climáticos. A professora critica as abordagens tradicionais de contenção da inflação, que frequentemente resultam em aumento do desemprego e retração da demanda. Ela propõe que, em vez de simplesmente elevar os juros, o foco deveria estar em aumentar a capacidade produtiva e a eficiência do trabalho, assim enfrentando a inflação de maneira mais inteligente.
Outro ponto importante foi o fortalecimento da política industrial, que começou a resgatar sua importância no desenvolvimento econômico do Brasil. O economista Marcelo Balloti argumenta que, após décadas de desindustrialização, iniciativas recentes buscam revitalizar setores estratégicos, como a indústria de fertilizantes e a farmacêutica. Essas áreas têm o potencial de reduzir a dependência das importações e gerar mais inovação e valor agregado à economia.
As medidas de corte de gastos, um dos principais focos do governo ao longo do ano, foram recebidas de forma controversa. A professora Daniela Freddo observa que embora buscassem sinalizar responsabilidade fiscal, acabaram por afetar principalmente os mais vulneráveis. Os cortes em áreas como os “supersalários”, que não ocorreram, contribuíram para um descontentamento geral, especialmente no mercado financeiro, que reagiu negativamente a decisões como a isenção do imposto de renda para rendimentos até R$ 5 mil, uma promessa de campanha que gerou divergências internas.
Em resumo, 2024 foi um ano de intensos debates e decisões difíceis na economia brasileira. O governo enfrentou desafios formidáveis para equilibrar a necessidade de controlar a inflação, estimular a indústria e garantir uma distribuição justa dos ônus fiscais, em um contexto de recuperação econômica ainda frágil.