O consumidor acaba entrando no rotativo quando paga apenas uma parte da fatura até o vencimento, o que faz com que o valor devido seja transferido para o próximo mês, acrescido de juros. Essa prática, porém, aumenta consideravelmente o valor da dívida.
Surge então o questionamento: faz sentido limitar os juros cobrados pelos bancos? Especialistas têm opiniões divergentes sobre o tema. Enquanto alguns acreditam que é essencial tomar medidas para reduzir os riscos do sistema financeiro e controlar o endividamento e a inadimplência, outros defendem que limitar os juros pode não resolver o problema do superendividamento.
Uma medida adotada pelo Banco Central em relação ao cheque especial pode servir como exemplo. A limitação em 8% ao mês do juro cobrado para quem entra nessa modalidade resultou em uma queda na participação do cheque especial no saldo total da carteira de crédito das famílias. No entanto, o volume de saldo ainda se manteve elevado.
Em relação ao rotativo do cartão de crédito, a dívida chegou a diminuir durante a pandemia, quando as pessoas estavam mais cautelosas com seus endividamentos. No entanto, após o período mais crítico da crise sanitária, observou-se um aumento novamente.
Para Isabela Tavares, analista da Tendências Consultoria, reduzir os juros de forma abrupta pode levar o consumidor a recorrer a outras modalidades emergenciais de crédito que não são reguladas, como o crédito pessoal não-consignado. Portanto, isso não necessariamente traria uma melhora na situação financeira e na inadimplência.
A economista destaca que é necessário encontrar soluções estruturais para as famílias, como a redução da inadimplência e do risco de crédito no país. Isso envolveria não apenas programas de renegociação de dívidas, como o Desenrola, mas também melhorias no equilíbrio macroeconômico, incluindo a redução da taxa básica de juros.
Por outro lado, o economista André Perfeito acredita que a limitação dos juros pode levar as instituições financeiras a restringir o acesso ao crédito, caso o custo do rotativo não seja suficiente para cobrir os riscos de inadimplência. Ele propõe a troca da dívida do rotativo por outros tipos de dívida, com limitações para o consumidor na obtenção de crédito em outras instituições.
Rafael Schiozer, professor de finanças da FGV, concorda que a limitação dos juros pode resultar em uma diminuição da oferta de crédito, principalmente para a população de baixa renda. No entanto, ele argumenta que essa é uma das soluções mais viáveis e defende a discussão a respeito do assunto.
Schiozer ressalta que limitar os juros pode reduzir a competição entre as instituições financeiras, mas destaca que as fintechs, que surgiram nos últimos anos, não foram capazes de promover uma queda nas taxas de juros. Segundo ele, é necessário compreender melhor os motivos que levam as pessoas a caírem no rotativo do cartão de crédito.
Em conclusão, a discussão sobre a limitação dos juros no rotativo do cartão de crédito é complexa e envolve diferentes perspectivas. Enquanto alguns defendem que é necessário tomar medidas para reduzir os altos níveis de endividamento e inadimplência, outros alertam para os possíveis impactos negativos, como a redução da oferta de crédito. O debate continua, buscando encontrar soluções que beneficiem tanto consumidores quanto instituições financeiras.