Laudo sobre morte de João Victor ignora diálogo crucial entre PMs e vítima em gravação; Justiça pede nova perícia e investiga suposta simulação de confronto.

O caso trágico de João Victor de Jesus da Silva, ocorrido em julho de 2024 na Zona Leste de São Paulo, levanta questões profundas sobre a atuação da Polícia Militar e a gestão das operações de segurança no Brasil. O jovem foi abordado por uma equipe de policiais durante uma operação investigativa, e uma gravação de segurança capturou seus apelos emocionados, implorando para não ser morto. A gravação foi analisada por um laudo pericial, que, surpreendentemente, não se aprofundou nas conversas envolvidas, resultando em críticas à superficialidade do documento elaborado pelo perito José Carlos de Freitas Garcia Caldas.

Na gravação, ouve-se João Victor afirmando que não possuía armas e mencionando os filhos pequenos, pedindo clemência aos policiais. Em resposta, um dos PMs teria dito, de forma desdenhosa, “foda-se as crianças”. Esse desrespeito iminente culminou em um ato de violência brutal: disparos de arma de fogo que vitimaram o jovem, levando-o posteriormente ao hospital, onde sua morte foi constatada. Os relatores oficiais alegam que ele teria reagido à abordagem, atirando contra os policiais, mas a versão da família é bem diferente. Para eles, a situação representa uma tentativa de encobrir um confronto que nunca existiu.

A situação piora ao considerar o contexto em que João Victor vivia. Dependente de drogas e sob risco devido a um histórico criminal relacionado a um roubo, o jovem tinha uma vida marcada por dificuldades que, segundo seu pai, Sergio Antonio da Silva, o levou a vender tudo o que possuía para sustentar seu vício. A residência modestíssima do jovem, de apenas 20 metros quadrados, era um reflexo da sua deterioração pessoal.

O caso de João é parte de um fenômeno mais amplo que assola a cidade de São Paulo, onde, em um ano, 246 mortes atribuídas a operações policiais foram registradas. Alarmantemente, muitas dessas vítimas não estavam armadas. Essa realidade suscita debates sobre a série de disparos empreendidos pela Polícia Militar, com um número significativo de tiros sendo disparados em situações onde as vítimas não representavam uma ameaça.

Diante dessas revelações, o Ministério Público de São Paulo recorre ao pedido de uma nova perícia no áudio da gravação e a diversidade de suas interpretações. A tragédia de João Victor não é apenas um caso isolado, mas um chamado para a sociedade refletir sobre as práticas policiais e os impactos da violência nas comunidades. A luta por justiça e pela verdade continua, sendo um reflexo das tensões sociais que permeiam a atualidade brasileira.

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