JUSTIÇA – Tentativa de Obstrução de Justiça: Advogados de Bolsonaro Teriam Contatado Família de Mauro Cid para Influenciar Delação sobre Golpe no Governo Anterior



O tenente-coronel Mauro Cid prestou um depoimento à Polícia Federal (PF) revelando que advogados ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro estabeleceram comunicação com sua família, incluindo sua esposa, mãe e filha menor de idade. Cid alega que a intenção desses contatos foi interferir em sua colaboração com a justiça, especialmente em relação à sua delação premiada na qual denunciou um plano golpista que teria sido arquitetado durante o governo anterior.

Esse tipo de abordagem, segundo os advogados de Cid, caracteriza uma tentativa de obstrução da Justiça. Eles acusam Paulo Cunha Bueno e Fábio Wajngarten de buscarem informações que poderiam influenciar o delator e de tentarem dissuadi-lo a não prosseguir com sua delação. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, em resposta a essas alegações, ordenou que a PF colhesse depoimentos de Bueno e Wajngarten, os quais são considerados peças-chave no chamado “núcleo crucial” da trama golpista, que inclui Cid e Bolsonaro.

No decorrer de um depoimento prestado na última terça-feira (24), Cid contou que, ao verificar o telefone celular de sua filha, identificou que os advogados estavam em contato frequente com ela por meio de aplicativos de mensagem. Esses contatos, conforme indicado por Cid, ocorreram de maneira constante entre setembro de 2023 e o início de 2024. O advogado Kuntz, que também defende outro réu na mesma ação, tenta anular a delação de Cid, alegando que ele teria violado o sigilo de sua própria colaboração.

A situação se torna ainda mais complexa com a confirmação, por parte da empresa Meta, de que um perfil utilizado para contatar Cid foi registrado com o mesmo e-mail que ele utilizou. Cid, no entanto, nega categoricamente qualquer envolvimento com essa conta e defende que sua delação foi realizada de forma voluntária. Ele também relatou ter sido abordado em eventos de hípicas, o que indica uma preocupação com a estratégia dos advogados de pressionar sua família por informações privilegiadas.

Quando questionado sobre a razão das aproximações de Kuntz, Cid expressou sua convicção de que o advogado buscava informações sobre seu acordo de delação, utilizando a inocência de sua filha como uma forma de manipulação. Além disso, em relação a gravações que sugerem discussões sobre sua delação, ele acredita que foram obtidas de maneira involuntária e editadas de forma a induzir interpretações errôneas.

Kuntz, por sua vez, nega qualquer tentativa de obstruir a Justiça. A situação se complica ainda mais, pois Moraes já determinou a prisão do coronel Marcelo Câmara, outro réu, por suposta violação das diretrizes impostas pela Justiça ao manter contato com outros investigados. Em meio a tudo isso, Wajngarten, um dos advogados mencionados, continua a sustentar que a situação se trata de uma tentativa de criminalizar a advocacia, defendendo a validade da delação de Cid.

A repercussão desse caso destaca não apenas o conflito entre ex-integrantes do governo, mas também levanta questões críticas sobre o funcionamento da Justiça e a proteção dos direitos individuais em um ambiente carregado de tensões políticas.

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