JUSTIÇA – “Tenente-coronel revela que Bolsonaro buscava fraude em urnas para justificar golpe militar após eleições de 2022, em depoimento sobre trama golpista.”

Na última segunda-feira, durante um interrogatório no âmbito da ação penal que investiga tentativas de golpe culminadas nas eleições de 2022, o tenente-coronel do Exército Mauro Cid revelou detalhes sobre as expectativas do ex-presidente Jair Bolsonaro em relação às urnas eletrônicas. Cid afirmou que Bolsonaro acreditava que poderia encontrar provas de fraude nos sistemas de votação, o que, segundo ele, teria como objetivo a mobilização dos altos comandos das Forças Armadas para a realização de uma intervenção militar no país.

Cid, que foi ajudante de ordens de Bolsonaro e atualmente se apresenta como delator nas investigações, foi o primeiro réu do “Núcleo 1” da suposta trama golpista a ser ouvido pelo ministro Alexandre de Moraes, responsável pela condução do inquérito. Durante sua fala, o tenente-coronel destacou que tanto Bolsonaro quanto o ex-ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, nutriam a expectativa de encontrar irregularidades nas urnas eletrônicas. Isso teria sido uma estratégia para justificar a intervenção militar, apresentando a alegação de que a eleição havia sido fraudada.

A pressão exercida por Bolsonaro sobre o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, para que este insinuasse a possibilidade de fraudes nas eleições eletrônicas foi outro ponto abordado por Cid. O militar ressaltou que a intenção era convencer os líderes militares de que a legitimidade do processo eleitoral poderia estar comprometida. Ele afirmou que “a grande expectativa era que fosse encontrada uma fraude”, o que poderia mudar o cenário político.

Neste contexto, vale lembrar que em 2022, Nogueira encaminhou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um parecer técnico que levantava dúvidas sobre a isenção do sistema de votação eletrônico. É importante sublinhar que os militares estavam envolvidos na comissão de transparência instituída pelo TSE para decorar a integridade das eleições.

O depoimento de Mauro Cid foi interrompido para um intervalo, mas está previsto para se estender até as 20h. Nos próximos dias, o ministro Moraes ouvirá outros réus que, junto com Bolsonaro e Braga Netto, são acusados de participar do que se denomina “núcleo crucial” de uma tentativa de desestabilização da transferência de poder após o pleito de 2022. A lista de interrogatórios inclui figuras proeminentes como Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, e Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional. As revelações de Cid se inserem em um contexto mais amplo de investigações que visam esclarecer os contornos das manobras políticas e suas implicações para a democracia no Brasil.

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