JUSTIÇA – STF Adia Decisão Sobre Quebra de Sigilo de Usuários do Google em Investigação do Caso Marielle Franco

Na última quinta-feira, 25 de outubro, o Supremo Tribunal Federal (STF) adiou a conclusão de um julgamento que pode ter implicações significativas na forma como dados pessoais são tratados em investigações criminais. O caso em questão envolve a possibilidade de autorização para a quebra de sigilo de usuários da internet que realizam buscas por determinadas palavras-chave. Tal medida pode permitir que autoridades identifiquem indivíduos em investigações relacionadas a crimes.

Atualmente, o placar do julgamento está favorável à quebra de sigilo, sendo 5 votos a 2. No entanto, essa autorização deverá estar atrelada a regras rigorosas, que ainda precisam ser definidas pela Corte. Um dos pontos críticos levantados é a necessidade de estabelecer critérios claros e específicos para a identificação dos usuários, garantindo que a medida seja utilizada de forma justa e legal.

O julgamento foi temporariamente interrompido após um pedido de vista do ministro Dias Toffoli, que paralisou a discussão sem uma previsão para a sua retomada. Isso significa que os desafios e preocupações em torno da privacidade dos cidadãos e a segurança pública continuam em aberto na agenda da justiça brasileira.

A origem desse debate remonta a um recurso apresentado pelo Google, que contestou uma decisão anterior do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Essa decisão obrigou a plataforma de busca a fornecer à Justiça informações sobre usuários que buscavam por termos relacionados à vereadora Marielle Franco, assassinada em março de 2018 no Rio de Janeiro. A Justiça do Rio, embasada em uma liminar, havia determinado que o Google entregasse os endereços IP de usuários que pesquisavam palavras-chave conectadas ao caso em questão.

Os votos a favor da quebra de sigilo que já se manifestaram, incluindo os dos ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, abordaram a necessidade de salvaguardas, como a obtenção de uma decisão judicial prévia e o descarte de dados de usuários não investigados. Por outro lado, ministros como André Mendonça e a aposentada Rosa Weber expressaram preocupações de que a autorização para a coleta indiscriminada de dados poderia transformar o Brasil em um “Estado policialesco”, colocando a privacidade dos cidadãos em risco.

No contexto mais amplo do caso Marielle, o envolvimento e a responsabilização de acusados pelo assassinato continuam sendo um tema relevante e delicado. Recentemente, a Procuradoria-Geral da República solicitou ao Supremo a condenação de indivíduos ligados ao caso, incluindo políticos e ex-oficiais da polícia, que, segundo as investigações, têm conexão direta com o crime. O julgamento desses acusados ainda não teve data definida, mas traz à tona a urgência de se encontrar um equilíbrio entre a justiça e a proteção da privacidade individual em um país marcado por complexas situações de violência e corrupção.

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