Comunidades Quilombolas do Rio Debatem Desafios e Soluções em Encontro sobre Clima
Neste sábado, 15, diversas comunidades quilombolas do estado do Rio de Janeiro se reuniram na capital fluminense para discutir a Cúpula das Vozes Quilombolas pelo Clima. O encontro, promovido pela Associação das Comunidades Quilombolas do Estado do Rio de Janeiro (Acquilerj), teve como principal foco a luta pela titulação das terras quilombolas, um tema que gera grande ansiedade entre os participantes.
A presidenta da Acquilerj, Bia Nunes, trouxe à tona a grave situação em que se encontram as 54 comunidades quilombolas reconhecidas no estado, das quais apenas três possuem titulação formal: Marambaia, em Mangaratiba; Preto Forro, em Cabo Frio; e Campinho, em Paraty. Bia destacou problemas jurídicos relacionados a dois desses títulos e expressou indignação em relação ao que considera uma “chantagem emocional” por parte das autoridades, que muitas vezes solicitam que as comunidades abram mão de grandes áreas de terra para que o processo de titulação avance.
O encontro não se limitou a discutir problemas, mas também proporcionou um espaço para que representantes de 16 territórios quilombolas apresentassem suas demandas e estratégias de resistência. Bia enfatizou que a Cúpula se diferencia por dar voz às próprias comunidades, permitindo que elas falem de suas experiências, desafios e soluções.
Alessandra Rangel Oliveira, que atua nas questões ambientais e climáticas dentro da Acquilerj e é membro do quilombo Maria Joaquina, ressaltou a particularidade de Cabo Frio. A cidade conta com sete comunidades quilombolas, mas apenas uma, Preto Forro, tem titulação. Alessandra mencionou o potencial turístico da região, que atrai investidores, gerando conflitos de terra com grileiros e fazendeiros. Ela destacou a seriedade da situação, mencionando ameaças de morte direcionadas a lideranças que se opõem aos projetos de exploração na área.
As dificuldades em acessar recursos para compensar os proprietários de terras, quando necessário, foram também um ponto crítico na discussão. Mesmo quando o Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) se compromete a ajudar na titulação, a resistência dos líderes comunitários é palpável, refletindo um clima de medo sobre as consequências que tais ações podem acarretar.
Por outro lado, a representante do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Viviane Lasmar Pacheco, apresentou um caso positivo: a comunidade quilombola Pedra Bonita, que opera dentro do Parque Nacional da Tijuca, foi certificada há três anos. Segundo Viviane, esse reconhecimento fortalece os direitos da comunidade em relação ao território, e estão sendo estabelecidos acordos que visam respeitar os modos de vida quilombolas enquanto se avança rumo à titulação.
Enquanto as comunidades seguem lutando por sua autonomia e reconhecimento, a discussão no encontro evidenciou não apenas os desafios enfrentados, mas também a resiliência e a capacidade de luta por parte dos quilombolas. A busca por direitos e reconhecimento nas questões climáticas e territoriais prossegue, e a voz das comunidades se torna cada vez mais forte neste cenário.









