JUSTIÇA – Proposta da Alesp ameaça autonomia de defensores públicos, gerando alerta de organizações sobre riscos à justiça e direitos humanos em São Paulo.

Entidades de defesa dos direitos humanos e movimentos sociais expressaram sérias preocupações em relação ao Projeto de Lei Complementar 20/2025, atualmente em tramitação na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). A proposta, apresentada pela defensora pública-geral do estado, Luciana Jordão, em 9 de outubro, já recebeu o regime de urgência, o que pode acelerar sua aprovação. Essa agilidade na análise do projeto tem levantado um alerta entre os defensores públicos e ativistas.

Mais de 100 organizações assinaram uma carta pública denunciando os riscos que a proposta traz para a atuação dos defensores públicos. Segundo o documento, a centralização das decisões na figura da defensora-geral e a criação de um “Grupo de Assessoramento de Demandas Estruturais” poderiam obstruir o trabalho dos defensores, comprometendo a transparência nas deliberações. A função desses profissionais é fundamental, pois atuam na proteção de grupos vulneráveis, como a população carcerária, vítimas de violência, imigrantes e pessoas de baixa renda, que dependem de sua representação legal.

Os defensores públicos, considerados a linha de frente na luta por justiça, podem ver sua autonomia severamente reduzida se o PL for aprovado. A proposta prevê mudanças no orçamento do órgão, que, antes decidido pelo Conselho Superior — formado por representantes eleitos dos defensores —, passaria a depender do novo grupo assessor. Isso enfraqueceria o controle sobre os recursos públicos e concentraria ainda mais poder nas mãos da Defensoria Pública-Geral.

A importância da Defensoria Pública de São Paulo, criada em 2006, é reiterada por diversas entidades que apontam seu papel crucial na promoção de direitos humanos e na realização de pesquisas e parcerias significativas. Em casos emblemáticos, como a tragédia do Massacre de Paraisópolis, a Defensoria tem sido um canal vital para a denúncia das ações abusivas do Estado, buscando garantir responsabilizações e dar voz às vítimas.

A proposta também pode impactar a dinâmica de reuniões e a participação da sociedade civil no Conselho Superior, uma vez que a migração para formatos virtuais comprometeria a “Momento Aberto”, um espaço de discussão pública importante para a legitimação das ações da Defensoria. A comunidade, especialmente os mais afetados por essas mudanças, pode se ver ainda mais distante dos processos que regulam seu acesso à justiça.

O debate é permeado por uma preocupação crescente com a possibilidade de que o projeto fortaleça a intervenção do Estado e fragilize a defesa de direitos. Especialistas alertam que a autonomia financeira é essencial para a integridade das instituições, e o PL 20/2025 pode criar um cenário de vulnerabilidade ainda maior para os defensores, limitando seu papel essencial na proteção das pessoas em situação de vulnerabilidade econômica e social.

Com manifestações agendadas para protestar contra a proposta, a mobilização busca alertar a população sobre as implicações do projeto, que, conforme argumentam as organizações envolvidas, representa uma ameaça ao acesso à justiça e à proteção de direitos fundamentais. O cenário continua a se desenrolar, enquanto as entidades aguardam uma resposta da Defensoria Pública e da Prefeitura de São Paulo sobre as questões levantadas.

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