Em seu depoimento, realizado em agosto do ano passado, Delgatti afirmou que havia recebido um pedido de Bolsonaro para assumir a autoria de supostos grampos no celular do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com o programador, o ex-presidente teria tido acesso ao material, que ele alegou ter sido obtido por agentes estrangeiros. Esses comentários geraram forte reação, com a defesa de Bolsonaro acionando a Justiça, alegando que as acusações eram falsas e que Delgatti não apresentou provas para sustentar sua versão.
Durante todo o processo de instrução, Delgatti manteve sua versão dos fatos, apesar de não ter conseguido apresentar provas concretas que corroborassem suas alegações. Ele sustentou que não havia caluniado Bolsonaro, mas insistiu em que estava dizendo a verdade. O programador também mencionou que recebera o pedido de Bolsonaro por intermédio da deputada Carla Zambelli (PL-SP), com quem mantinha contato regular.
No depoimento ao juiz, Delgatti repetiu essa versão, mas destacou que não poderia produzir provas adicionais devido à sua prisão por outro caso. Alegou também que não tinha como acessar qualquer material que pudesse confirmar suas declarações.
Ao final do julgamento, o juiz Omar Dantas Lima condenou Delgatti, argumentando que a versão apresentada pelo programador realmente imputava crime ao ex-presidente, mas não era respaldada por provas suficientes. O magistrado ressaltou que Delgatti “não produziu prova capaz de conferir verossimilhança à sua narrativa” e que suas declarações foram feitas diante de parlamentares de uma CPMI, com ampla cobertura da imprensa e grande repercussão tanto no Brasil como no exterior devido à internet e redes sociais.
O juiz autorizou que Delgatti recorra da decisão em liberdade. No entanto, ele permanece preso por outro caso, envolvendo a invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Delgatti, conhecido como “hacker de Araraquara”, já foi condenado em primeira instância no âmbito da Operação Spoofing, que investigou a invasão de celulares de autoridades, incluindo procuradores e juízes da Lava Jato. Com a nova condenação, o programador enfrenta um cenário jurídico cada vez mais complicado e um futuro incerto no contexto de suas atividades judiciais e criminais.