JUSTIÇA – Policiais do Batalhão de Choque são denunciados por peculato e furto qualificado em operação que resultou em 122 mortes, incluindo 5 policiais.

No último sábado, 29 de outubro de 2025, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) fez duas denúncias formais contra seis policiais militares do Batalhão de Choque, implicados em crimes de peculato e furto qualificado ocorridos durante a conturbada Operação Contenção no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro. As acusações têm como base a análise detalhada de registros em vídeo captados por câmeras operacionais portáteis, que levantaram sérias suspeitas sobre a conduta dos agentes durante a operação.

As denúncias revelam um trágico cenário de abuso de poder e desvio de bens públicos. Um dos principais implicados, o 3º sargento Marcos Vinicius Pereira Silva Vieira, foi flagrado recolhendo um fuzil de alto poder de fogo, semelhante ao AK-47, em uma residência onde cerca de 25 indivíduos já haviam sido rendidos. Em vez de seguir o protocolo e encaminhar a arma ao grupo responsável pela contabilização dos itens apreendidos, Vieira se afastou do local, abrindo espaço para práticas de desvio.

Mais tarde, Vieira se encontrou com o 3º sargento Charles William Gomes dos Santos, e juntos colocaram o fuzil dentro de uma mochila, sem registrar a apreensão. A primeira denúncia de peculato foi protocolada no dia 28, mas a gravidade das ocorrências não parou por aí.

Em outra frente, a 2ª Promotoria de Justiça também denunciou outros quatro policiais, incluindo o subtenente Marcelo Luiz do Amaral e o sargento Eduardo de Oliveira Coutinho. Estes estão envolvidos no desmantelamento de um veículo Fiat Toro estacionado na Vila Cruzeiro, em uma ação que contou com tentativas de manipulação das câmeras corporais. Coutinho foi registrado retirando partes do carro, enquanto os outros dois policiais tentavam obstruir a gravação.

Esses atos, segundo o MPRJ, comprometem a integridade das operações policiais e dificultam a fiscalização interna e externa do uso da força policial, além de prejudicar a coleta de provas que poderiam esclarecer a verdadeira natureza das atividades em campo.

A análise das imagens captadas durante a Operação Contenção está longe de ser concluída, com as Promotorias de Justiça junto à Auditoria Militar revisando várias horas de filmagens. O MPRJ se comprometeu a investigar a extensão dessas ilegalidades, questionando se são práticas isoladas ou parte de um padrão mais abrangente de conduta inadequada durante operações de grande escala no estado.

A Operação Contenção, classificada como uma das mais letais da história recente do Rio de Janeiro – com 122 mortes, incluindo cinco policiais – levanta preocupações sobre a eficácia e ética das intervenções de segurança pública, e a sociedade aguarda ansiosa por respostas e responsabilizações adequadas.

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