JUSTIÇA – Ministro do STF defende emendas parlamentares e afirma que a Corte não age em favor de governos, mas sim em benefício da população brasileira.

Na manhã desta sexta-feira (27), Brasília acolheu uma audiência pública sobre emendas parlamentares, evento que teve a participação do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF). Durante sua fala, Dino rejeitou de forma enfática a ideia de que a Corte favoreça interesses de qualquer governo ou atue contra outros poderes, sublinhando que a função do STF é garantir a justiça e corrigir falhas que possam impactar a população.

O ministro destacou que a deliberação atual não se refere a preferências partidárias, mas à necessidade de adequação das emendas parlamentares aos princípios constitucionais que regem a transparência e a rastreabilidade do uso de recursos públicos. Ele fez questão de ressaltar que o plano de trabalho aprovado por unanimidade pelo plenário do Supremo teve apoio de ministros indicados por presidentes de diferentes tendências políticas, reforçando assim a sua abordagem imparcial.

Dino também fez um alerta importante durante a audiência: os debates ali realizados são de natureza abstrata, não envolvendo situações específicas de investigações em andamento relacionadas a desvios de emendas. “Quando qualquer poder erra, o custo é sempre suportado pelo povo”, disse, referindo-se a casos de fraudes constatadas em diferentes esferas de governo, como no Executivo e no Judiciário. Para ele, os desvios nas emendas parlamentares devem ser abordados para que a sociedade não arque com os prejuízos resultantes de falhas administrativas.

No contexto da discussão, o ministro lembrou que as emendas parlamentares envolvem valores significativos, estimados hoje em cerca de R$ 100 bilhões, considerando tanto o orçamento federal quanto os recursos destinados por legislativos estaduais e municipais. “Caso haja investigações específicas que envolvam qualquer emenda, o Supremo não hesitará em suspender o pagamento por razões cautelares”, esclareceu.

A audiência busca discutir três ações diretas de inconstitucionalidade que questionam a compatibilidade de vários tipos de emendas parlamentares com a Constituição, incluindo as chamadas emendas de transferência especial, que até então permitiam a alocação de recursos sem a devida identificação de beneficiários. Além disso, destacaram-se as emendas impositivas, cuja execução é obrigatória pelo Executivo, conforme regramento criado pelo Congresso a partir de 2019.

A temática das emendas parlamentares é altamente sensível e tem gerado contínuos embates entre os poderes. Lideranças do Congresso demonstram preocupação com o potencial de intervenção do Executivo e do Judiciário nas prerrogativas do Legislativo, que busca participar ativamente do processo orçamentário. Apesar da expectativa de presença, os presidentes da Câmara e do Senado, Hugo Motta e Davi Alcolumbre, cancelaram suas participações, optando por serem representados por advogados das respectivas casas. A mudança de planos evidencia o peso político e as tensões que permeiam o debate sobre esse assunto crucial para a administração pública no Brasil.

Sair da versão mobile