A investigação foi motivada por um documento assinado por 15 professores e universitários de várias universidades brasileiras e estrangeiras, que alertaram sobre a necessidade de se apurar e debater a responsabilidade de instituições brasileiras envolvidas com a escravização de pessoas no século XIX. No caso em questão, a abordagem se concentra no Banco do Brasil. Uma reunião entre a presidência do banco e os historiadores já está agendada para o dia 27 de outubro, na Procuradoria da República no Rio de Janeiro.
Os historiadores afirmam que a escravidão fazia parte integrante da instituição financeira e que o primeiro Banco do Brasil, criado em 1808, surgiu justamente para lidar com a escassez de crédito e moeda no império português, mas seu envolvimento não se limitava ao financiamento público. De acordo com os dados apresentados, o banco se beneficiava da arrecadação de impostos sobre embarcações envolvidas no tráfico de escravos. Além disso, ressaltam que o capital para a formação do banco provinha da economia da época, a qual tinha a escravidão e o comércio de escravos como atividades centrais.
Outra evidência da relação entre o Banco do Brasil e a escravidão é o fato de que os fundadores e grandes acionistas da instituição eram traficantes de escravos, como José Bernardino de Sá, que foi um dos maiores traficantes do país entre 1825 e 1855 e maior acionista individual do banco em sua refundação em 1853.
Os procuradores responsáveis pelo inquérito destacam que seu objetivo é identificar como ocorria essa relação entre o banco e a escravidão, e que isso se insere no campo da memória, verdade e justiça. Eles ressaltam que é necessário revisitar o passado, esclarecer certas questões e pensar em formas de reparação simbólica ou monetária para que essa história não fique apagada e para que seja possível refletir sobre o caminho a ser tomado.
O Banco do Brasil informou que seu departamento jurídico analisará o documento e fornecerá as informações necessárias dentro do prazo estabelecido.