Esse movimento do presidente Lula ocorre em um momento bastante delicado, uma vez que o ex-presidente Jair Bolsonaro enfrenta um julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) devido a denúncias feitas por Gonet. As acusações envolvem a suposta liderança de Bolsonaro em uma conspiração golpista, cujo objetivo era manter-se no poder após a derrota nas eleições de 2022. Tal contexto evidencia a importância do papel que Gonet desempenha neste cenário político tumultuado.
A recondução de Gonet foi formalizada após uma reunião entre ele e Lula no Palácio do Planalto. Contudo, mesmo com a confirmação de sua permanência, o procurador ainda precisa passar por uma nova sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. O nome de Gonet terá de ser aprovado por um plenário que exige no mínimo 41 votos favoráveis. Na última votação, realizada em 2023, ele obteve 65 votos.
Essa decisão de Lula de antecipar a recondução tem um significado estratégico. Ao fazer isso, o presidente evita que a Associação Nacional de Procuradores da República (ANPR) realize sua tradicional lista tríplice de indicados, o que pode gerar uma competição interna para a sucessão da PGR. Para o governo Lula, isso representa uma forma de garantir maior estabilidade dentro do Ministério Público Federal e evitar divisões que poderiam ser prejudiciais em um momento tão sensível.
Apesar de em seus primeiros mandatos ter respeitado a lista tríplice, Lula não é obrigado a segui-la, uma prática que já havia sido adotada anteriormente ao nomear Gonet em primeiro lugar.
Paulo Gonet, 64 anos, traz consigo uma vasta experiência, sendo subprocurador-geral da República e com aproximadamente 40 anos de carreira no Ministério Público. Ele é reconhecido por ter cofundado o Instituto Brasiliense de Direito Público e por ter assumido a direção-geral da Escola Superior do Ministério Público da União. Formado em direito pela Universidade de Brasília (UnB), possui mestrado pela Universidade de Essex e doutorado também pela UnB. Desde sua entrada no Ministério Público Federal em 1987, Gonet tem se destacado em diversas funções, incluindo a vice-procuradoria-geral eleitoral.
Nesse novo ciclo, o procurador tem demonstrado um compromisso em reverter algumas orientações da PGR sob a gestão de seu antecessor, retomando a perseguição a casos de corrupção, especialmente aqueles relacionados a emendas parlamentares, como evidenciado pela denúncia contra o ex-ministro das Comunicações, Juscelino Filho, que resultou na sua demissão.