JUSTIÇA – “Ex-analista revela ordens para vincular Lula a facções criminosas durante o governo Bolsonaro, reforçando investigações sobre ações golpistas nas eleições de 2022.”

O analista de inteligência Clebson Ferreira de Paula Vieira, que atuou no Ministério da Justiça durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, revelou em depoimento recente que recebeu instruções para reunir informações que pudessem estabelecer uma conexão entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e facções criminosas. Vieira afirmou que essa solicitação foi feita em 2022, sob a supervisão da delegada Marília de Alencar, que na época ocupava o cargo de diretora de Inteligência da Secretaria de Operações Integradas do Ministério.

Em seu testemunho, Clebson descreveu um pedido específico que envolvia a análise estatística da votação em áreas dominadas pelo Comando Vermelho (CV) no Rio de Janeiro. O intuito era investigar se Lula obtinha uma maior concentração de votos em localidades controladas por essa facção. Esse tipo de abordagem, segundo Vieira, representava uma tentativa de vincular o então candidato a atividades criminosas, o que suscitou questionamentos éticos sobre as intenções subjacentes às análises requeridas.

Durante o depoimento, ficou claro que as solicitações de dados eleitorais focavam predominantemente em Lula, embora a necessidade de análise sobre outros candidatos também tenha sido mencionada. O analista comentou que compartilhava suas preocupações com a esposa, expressando que se sentia mal em relação a essas demandas com “um viés político”, especialmente quando oriundas da direção.

Na mesma sessão, Adiel Pereira Alcântara, ex-coordenador de Inteligência da Polícia Rodoviária Federal (PRF), também depôs e corroborou alegações anteriores de que houve um policiamento direcionado durante as eleições de 2022. Ele indicou que a fiscalização foi especialmente intensa em estados como Goiás, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, onde muitos eleitores dirigem-se ao Nordeste, uma região onde Lula tradicionalmente concentra muitos votos. Alcântara enfatizou que essas orientações de policiamento refletiam uma estratégia coordenada por partes do governo que tinha por objetivo restringir o acesso dos eleitores às urnas.

Essas audiências estão vinculadas a uma ação penal no Supremo Tribunal Federal que investiga uma possível tentativa de golpe de Estado supostamente orquestrada por Bolsonaro e seus aliados. As testemunhas ouvidas são parte de um núcleo considerado pela Procuradoria-Geral da República como responsável por ações estratégicas que incluíam monitoramento de opositores e manipulação de dados, elevando preocupações sobre a utilização de instituições do estado para fins políticos. A repercussão dessa situação levanta interrogações sobre a integridade do processo eleitoral e o respeito à democracia em tempos de polarização política.

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