Na condição de testemunha de acusação, Catramby foi convocado pelo Ministério Público Federal e prestou seu depoimento ao desembargador Airton Vieira, juiz auxiliar do gabinete do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF. A audiência aconteceu por meio de videoconferência, com os réus acompanhando diretamente das penitenciárias onde estão presos: o deputado federal Chiquinho Brazão, seu irmão, Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, o ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa, e o major da Polícia Militar Ronald Paulo de Alves Pereira. Além deles, Robson Calixto Fonseca, conhecido como Peixe e suspeito de ter fornecido a arma do crime, também figura como réu.
Durante as primeiras duas horas de depoimento, o delegado Catramby foi questionado pela Procuradoria-Geral da República e detalhou os interesses fundiários dos irmãos Brazão na zona oeste do Rio de Janeiro. Ele ressaltou a relação desses interesses com as milícias de locais como Rio das Pedras, Taquara e Oswaldo Cruz. O delegado reafirmou a tese presente em seu relatório final, que aponta a atuação da vereadora Marielle contra um projeto de lei sobre a regularização fundiária nessa região como sendo contrária aos interesses políticos e econômicos dos Brazão. Segundo ele, isso teria motivado a decisão de eliminá-la.
“Marielle tinha uma atuação veemente em relação ao direito de moradia e direito fundiário no Rio de Janeiro”, frisou Catramby. Ele mencionou ainda uma declaração atribuída a Domingos Brazão, em que teria afirmado, já em uma primeira reunião, que “Marielle estaria atrapalhando interesses dos loteamentos irregulares”. A investigação aponta que os irmãos Brazão teriam oferecido a Ronnie Lessa, executor confesso do crime, uma participação nos empreendimentos imobiliários irregulares planejados após a aprovação do referido projeto de lei.
Catramby também expôs estranhamentos desde o início das investigações, destacando lacunas inexplicáveis no trabalho prévio realizado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro. Entre essas falhas, citou o fato de só terem sido obtidas imagens de câmeras de segurança de um trecho de 450 metros da rota de fuga, quando o Chevrolet Cobalt usado no crime percorreu mais de 40 km na fuga, um trajeto que levaria à casa de Ronnie Lessa.
O delegado também relatou tentativas do primeiro delegado do caso, Giniton Lages, de pressionar o miliciano Orlando Curicica para assumir a autoria do assassinato. Curicica ainda será ouvido nas audiências de instrução no STF.
O depoimento de Catramby continuará até pelo menos as 19h desta terça-feira (13). Após as perguntas da PGR, ele poderá ser interrogado pelas defesas dos réus. As audiências de instrução do caso Marielle prosseguirão até a próxima sexta-feira (16), prometendo novos desdobramentos em uma das investigações criminais mais emblemáticas dos últimos anos no Brasil.