Em dezembro de 2021, o então presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, fez uma aposta política de alto risco: afirmou que o então governador de Alagoas, Renan Filho, permaneceria no cargo até o fim do mandato e não disputaria nenhuma eleição. Durante uma entrevista, Lira revelou um acordo com o presidente da Assembleia Legislativa de Alagoas, Marcelo Victor, garantindo apoio ao nome escolhido pelo Legislativo caso Renan Filho deixasse o governo.
“A conversa, a princípio, que eu tenho compromisso claro e público é com o presidente da Assembleia Marcelo Victor. Se o governador se afastar do seu mandato, eu acompanharei a escolha do nome da Assembleia Legislativa. Se o governador ficar no mandato, que é o que eu aposto, a escolha será minha, e a Assembleia Legislativa, junto com o presidente da Assembleia, apoiará o nome que eu escolher. Esse é o único acordo que eu tenho e que vou honrar no Estado de Alagoas”, declarou Lira na época.
A aposta de Lira, no entanto, não se concretizou. Renan Filho deixou o governo para disputar o Senado, e Marcelo Victor articulou a escolha de Paulo Dantas como candidato do grupo governista. Contrariando o compromisso inicial, Lira rompeu com Marcelo Victor e decidiu apoiar Rodrigo Cunha, candidato de oposição ao governo de Alagoas. A estratégia, no entanto, não teve sucesso: Paulo Dantas venceu tanto a eleição indireta realizada na Assembleia Legislativa, em maio de 2022, quanto a eleição direta, em outubro, mesmo enfrentando obstáculos judiciais e operações da Polícia Federal.
A disputa acirrou ainda mais os ânimos no cenário político alagoano. Atualmente, Lira está novamente em rota de colisão com Marcelo Victor, Paulo Dantas e a família Calheiros. Nos bastidores, circulam informações de que o ex-presidente da Câmara estaria atuando para enfraquecer as candidaturas majoritárias do grupo governista para as eleições de 2026.
Um interlocutor influente afirma que Arthur Lira teria pedido a intervenção do presidente Lula para impedir que Renan Filho dispute o governo estadual. A informação não foi confirmada oficialmente, mas há indicativos de que Lira estaria utilizando sua proximidade com o presidente para tentar barrar a candidatura do atual ministro dos Transportes. Outra hipótese ventilada seria a substituição de Renan Filho por Renan Calheiros na disputa pelo governo, abrindo espaço para outros nomes na corrida pelo Senado.
A leitura dentro do grupo de Paulo Dantas é que Lira busca uma vaga no Senado em 2026 e, para isso, estaria tentando afastar potenciais adversários. Se Renan Filho não concorrer ao governo, cresce a possibilidade de que JHC, atual prefeito de Maceió, entre na disputa – um cenário que pode favorecer Lira.
Nesta semana, Arthur Lira integrou a comitiva do presidente Lula em missão oficial ao Japão e ao Vietnã, ao lado de dois outros importantes políticos alagoanos: Renan Filho e Isnaldo Bulhões. Diferentemente de Renan Calheiros, com quem mantém apenas uma relação protocolar, Lira tem um diálogo mais aberto com os dois. No entanto, até o momento, não há sinais de que ele tenha buscado um entendimento com Renan Filho ou Bulhões.
Tudo indica que Arthur Lira seguirá com seu projeto de disputar o Senado pela oposição, apostando em uma polarização entre duas chapas principais: de um lado, JHC como candidato ao governo, e do outro, Renan Filho e Renan Calheiros. O cenário, contudo, ainda pode sofrer reviravoltas, já que novos nomes competitivos, como Davi Davino Filho, começam a se movimentar de olho na vaga para o Senado.
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