Milei, conhecido por suas posições ultraliberais, propõe um afastamento das tradições de integração latino-americana, o que gera incertezas sobre como a Argentina conduzirá o Mercosul, que inclui em sua composição Brasil, Paraguai, Uruguai e Bolívia, além da Venezuela, que atualmente está suspensa. Apesar de sua retórica contra as estruturas do bloco, especialistas sugerem que, na prática, Milei pode tender a agir de forma pragmática, priorizando o benefício econômico em detrimento das divergências políticas.
Analistas como Lier Pires Ferreira, da Universidade Federal Fluminense, e Robson Cardoch Valdez, da Universidade de Brasília, concordam que, mesmo com as desavenças políticas, o semestre à frente não deve apresentar grandes reviravoltas para o Mercosul. O recente acordo entre o bloco e a União Europeia, que leva 25 anos de negociações, reflete a complexidade da dinâmica comercial entre os países, onde cada um deve ratificar o acordo em seus parlamentos.
Embora a União Europeia tenha um modelo mais integrado, com livre circulação de pessoas e uma moeda única, o Mercosul ainda opera com limitações que exigem a validação interna de cada nação. No entanto, a expectativa é de que a necessidade de fortalecer laços comerciais e econômicos promova a aprovação do acordo.
As tensões ideológicas entre Milei e o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva são notórias, mas segundo especialistas, essas rivalidades não devem atrapalhar as negociações econômicas. O pragmatismo econômico pode se tornar a principal diretriz sob a presidência Milei, pois a necessidade de recursos e a busca por crescimento devem prevalecer sobre disputas ideológicas. A realidade econômica tende a moldar as agendas comuns entre Argentina e Brasil, especialmente com iniciativas como o recente acordo sobre gás natural de Vaca Muerta, que exemplifica a interdependência econômica.
Portanto, com Milei no comando do Mercosul, a região pode aguardar uma gestão marcada pela busca de soluções pragmáticas e um enfoque nas relações comerciais, superando, pelo menos temporariamente, as divergências políticas que tendem a surgir entre os líderes. A expectativa é que a Argentina utilize sua posição para explorar oportunidades de desenvolvimento e integração, mesmo que os compromissos ideológicos e a história de rivalidades permaneçam latentes.