Esse movimento de Milei reflete um padrão já observado em outros países membros do Mercosul, onde nações como o Uruguai têm buscado acordos comerciais fora das diretrizes do bloco, neste caso com a China. Especialistas têm analisado os possíveis impactos econômicos e políticos que essa decisão poderia acarretar não apenas para a Argentina, mas para todo o continente sul-americano.
O professor Corival Alves do Carmo, da Universidade Federal de Sergipe, argumenta que a saída da Argentina do Mercosul pode ser improvável, visto que o bloco desempenha um papel crucial nas exportações argentinas, principalmente em relação ao Brasil, seu maior parceiro comercial. No entanto, se esta saída se concretizar, poderia marcar o fim do Mercosul como concebido na década de 1980, com o Tratado de Assunção. O fim da Argentina dentro do Mercosul significaria uma revitalização do bloco talvez centrada no Brasil, mas com riscos evidentes de fragmentação e perda de relevância internacional.
Ademais, a possibilidade de que outros membros sigam o exemplo argentino e busquem acordos bilaterais pode desfigurar o pacto comercial, fazendo com que as normas do Mercosul deixem de ser relevantes e levando a um comércio regulado de forma fragmentada. Isso poderia abrir espaço para uma maior influência de potências como os EUA e a China na região, ao preencher esse vácuo deixado pela Argentina, o que geraria um novo panorama geopolítico na América do Sul.
Outra questão que se coloca é até que ponto os acordos bilaterais beneficiariam a Argentina, tendo em vista os seus déficits comerciais com os EUA e a China. Um acordo de livre comércio poderia aumentar esses déficits, sem garantir uma troca vantajosa em termos de substituição de importações. Nesse contexto, o Brasil também entraria em uma posição delicada, pois perderia um mercado importante, já que muitos de seus produtos que atendem à Argentina poderiam ser substituídos por alternativas mais baratas dos EUA e da China.
A rigidez do Mercosul é frequentemente citada como uma das razões que levanta discussões sobre saídas individuais. Para evitar sua fragmentação, analistas sugerem que o bloco precisa encontrar um equilíbrio entre a integração regional e a liberdade para acordos bilaterais, criando um modelo mais flexível que mantenha a relevância do Mercosul em um cenário global cada vez mais dinâmico. Se não o fizer, corre o risco de se tornar obsoleto e irrelevante, perdendo oportunidades de solidificação de laços comerciais e políticos na América do Sul, tornando-se um mero espectador em negociações de grande escala.