Interrogatório no Supremo: Clima Tenso e Expectativas para Bolsonaro
Na tarde desta segunda-feira, 9 de junho de 2025, teve início no Supremo Tribunal Federal (STF) um dos mais aguardados interrogatórios do cenário político brasileiro. O ex-presidente Jair Bolsonaro se encontra entre os oito réus do núcleo central do caso que investiga a tentativa de golpe de Estado que sacudiu o país recentemente. O tenente-coronel Mauro Cid, ex-assistente de ordens de Bolsonaro e colaborador na investigação, foi o primeiro a depor. Ele é considerado uma figura chave devido à sua posição e às informações que pode fornecer.
Além de Cid, o tribunal ouvirá quatro ex-ministros do governo Bolsonaro: Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira, Walter Braga Netto e Anderson Torres, além do ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos e do deputado Alexandre Ramagem. Braga Netto, que se encontra preso preventivamente, participará através de videoconferência. Bolsonaro, por sua vez, deve ser o sexto a se pronunciar, seguindo a ordem alfabética.
O clima nos corredores do STF é de expectativa e tensão. Especialistas em direito afirmam que este interrogatório pode ser um momento decisivo para as defesas dos réus, uma vez que suas estratégias envolvem a desqualificação da delação de Mauro Cid, buscando evidenciar contradições e inconsistências nas suas alegações. Para Álvaro Jorge, professor de direito da Fundação Getulio Vargas, esse é um momento crucial onde cada réu pode influenciar a percepção do juízo sobre o caso.
Rafael Valentini, advogado criminalista, destaca que, apesar da importância dos depoimentos, não há implicações diretas por eventuais mentiras, uma vez que o Brasil não prevê o crime de perjúrio. No entanto, os depoimentos coletivos podem criar uma rede de contradições que, eventualmente, complicaria a situação do ex-presidente. Tanto Jorge quanto Valentini concordam que as possibilidades de prisão de Bolsonaro são praticamente nulas, a não ser que ele represente um risco concreto ao andamento do processo.
As defesas têm direitos constitucionais que permitem, inclusive, o silêncio diante das perguntas. Essa estratégia pode ser utilizada para evitar a auto-incriminação, embora os analistas acreditem que cada depoimento pode resultar em impacto significativo no processo. Os acusados enfrentam uma gama de crimes, que incluem tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa armada e deterioração de patrimônio público.
Os interrogatórios, que têm previsão de se estender até o dia 13 de junho, são apenas o primeiro passo em um processo jurídico que promete ser longo e complexo. Após essa fase, terão início os prazos para alegações das partes e a coleta de novas provas, que determinarão os próximos passos da Justiça brasileira.