Historicamente, a Igreja, que conta com mais de 1,4 bilhão de fiéis, vem sendo marcada por uma série de escândalos relacionados a abusos e encobrimentos, o que não apenas prejudicou sua imagem, mas também resultou em custos exorbitantes, na casa das centenas de milhões de dólares, para compensações. O novo relatório, de 103 páginas, é considerado o mais abrangente da comissão até o momento e aborda, entre outros temas, as reparações às vítimas e os esforços de proteção em 22 países, além de examinar a atuação de um dos principais departamentos do Vaticano, o Dicastério para a Evangelização.
A crítica se intensifica em relação à negligência dos líderes da Igreja na comunicação com as vítimas sobre o status das denúncias de abuso e as consequências enfrentadas por bispos que falharam em agir. No relatório, a comissão menciona a dificuldade em obter respostas sobre os protocolos de proteção e a falta de detalhes relevantes por parte da Igreja, caracterizando respostas como acordos vazios e gestos superficiais em vez de um verdadeiro envolvimento com as vítimas.
Além disso, a comissão enfrenta desafios internos, tendo perdido vários membros ao longo dos anos, e sua primeira publicação anual foi somente no ano anterior. A Igreja na Itália, um país com forte tradição católica, tem sido criticada por não cooperar diretamente com a comissão, com menos de 36% das dioceses respondendo a um questionário sobre práticas de proteção. Em contraste, o envolvimento da Coreia do Sul foi completo, demonstrando uma disparidade nas abordagens a nível global.
A nova liderança do Vaticano, sob o papa Leão XIV, que assumiu o cargo após a morte do papa Francisco, sinaliza intentos de renovar as diretrizes e de responder a essas preocupações, mas as reformas precisam ser mais robustas para instaurar uma cultura de responsabilidade e transparência, especialmente em relação à remoção de líderes religiosos implicados em casos de abuso.
No contexto atual, o relatório reafirma a necessidade premente de maior clareza e prestação de contas por parte da Igreja, um anseio constante entre as vítimas, que exigem ações concretas e políticas rígidas de tolerância zero em relação a abusadores. A falta de explicações claras sobre as decisões tomadas em relação a bispos acusados continua a alimentar a desconfiança e as críticas, reforçando que a Igreja ainda tem um longo caminho a percorrer em sua luta contra o abuso.









