INTERNACIONAL – Relatório de Islamofobia revela aumento da intolerância após ataque do Hamas e impacto na comunidade muçulmana no Brasil.

Após o ataque organizado contra Israel pelo grupo Hamas, em 7 de outubro, deixando centenas de mortos, a comunidade muçulmana expressou seu receio de que a culpa pelas vítimas recaísse sobre ela e que a hostilidade aumentasse. Esse receio se confirmou na prática, conforme aponta a segunda edição do Relatório de Islamofobia no Brasil elaborado pelo Grupo de Antropologia em Contextos Islâmicos e Árabes (Gracias), da Universidade de São Paulo (USP). O levantamento teve como objetivo saber se os muçulmanos notaram um aumento no nível de intolerância como resultado do ataque de outubro.

De acordo com o relatório, ao todo, 310 pessoas responderam ao questionário: 125 homens, 182 mulheres e três pessoas que preferiram não se identificar quanto à sua identidade de gênero. Mais de um terço dos homens participantes (36,8%) afirmou que já percebia muita intolerância antes do ataque, enquanto 47,2% disseram que havia pouca. O relatório constatou que 84% dos muçulmanos do gênero masculino já identificavam atitudes de intolerância em relação à sua comunidade.

No caso das mulheres, 45,1% apontaram que já havia muita intolerância antes do ataque, enquanto 49,5% apontaram pouca intolerância. A pesquisa revelou que 94,6% das mulheres já percebiam a intolerância em algum nível. Após o ataque, aproximadamente 45,1% das mulheres e 69,2% dos homens relataram um aumento da intolerância contra a comunidade muçulmana.

Os pesquisadores questionaram a contribuição da imprensa quanto à islamofobia e observaram que a maioria dos entrevistados concluiu que as redes sociais passaram a multiplicar mais postagens que retratam os muçulmanos de forma negativa após o ataque. Além disso, a pesquisa verificou que a maioria dos entrevistados acredita que as pessoas em geral não sabem fazer a diferenciação correta entre muçulmanos, árabes e palestinos.

A antropóloga e pesquisadora Francirosy Campos Barbosa, que coordena o Gracias e o trabalho de pesquisa que resulta nos relatórios de islamofobia, afirma que a comunidade islâmica ainda não está coletivamente instrumentalizada para enfrentar agressões nas redes sociais. Ela destaca que muitas muçulmanas têm se sentido forçadas a mudar a escolha de vestimentas, como o uso do lenço islâmico, para tentar contornar as violências.

Outro levantamento divulgou um aumento no número de denúncias de discriminação e violência contra judeus, o antissemitismo, desde o 7 de outubro. O Departamento de Segurança Comunitária registrou 467 denúncias em outubro deste ano, contra 44 referentes a outubro de 2022. De janeiro a outubro de 2023, foram 876, enquanto no mesmo período de 2022 foram 375. No entanto, a apuração não levou em consideração a distinção entre antissemitismo e antissionismo, tratando as críticas ao Estado de Israel como se fossem casos de discriminação contra a comunidade judaica.

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