Segundo a análise do professor Alexandre Pires, especialista em relações internacionais do Ibmec São Paulo, essa estratégia é um claro sinal à China e uma resposta ao crescente domínio econômico de Pequim nas Américas. Com a nova política, os EUA pretendem limitar a capacidade de países não-americanos de estabelecerem operações que possam ser consideradas ameaços aos interesses dos Estados Unidos.
A Doutrina Monroe, estabelecida em 1823, originou-se em um contexto histórico em que os EUA começavam a se firmar como uma potência mundial. Ela defendia a ideia de que o continente americano deveria ser uma zona livre da intervenção de potências europeias. O novo plano inclui o que a Casa Branca chamou de “Corolário Trump”, uma modernização da antiga doutrina que busca expandir a influência americana por meio da remoção de empresas estrangeiras que investem em infraestrutura na região.
Os objetivos apresentados na estratégia envolvem o fortalecimento do acesso a locais considerados vitais e a expulsão de empresas concorrentes, especialmente aquelas ligadas à China. Pires observa que a retórica dos EUA se intensifica em ações concretas, como a manobra para recuperar o controle do Canal do Panamá, somada a um aumento da mobilização militar no Caribe, especialmente em resposta à Venezuela, que possui laços estreitos com Moscovo e Pequim.
O documento também destaca que os EUA pretendem estreitar laços com governos e organizações alinhados com seus princípios, ao mesmo tempo que não devem ignorar aqueles que possuam visões divergentes, desde que compartilhem interesses comuns. A Casa Branca afirmou que as incursões de potências externas representam um grande erro estratégico, advertindo que a manutenção da soberania dos países latino-americanos poderá ser comprometida.
Além disso, foi ressaltada a importância da atuação de funcionários do Estado nas embaixadas para promover as empresas americanas, enfatizando que parte do trabalho do governo envolve garantir que essas empresas possam competir de maneira vantajosa na região. Outro aspecto importante da nova abordagem é a ênfase em acordos comerciais que priorizem o fornecimento exclusivo para empresas estadunidenses, promovendo um modelo de diplomacia que alia interesses comerciais e de segurança.
Assim, a nova estratégia intimida concorrentes e reafirma a hegemonia dos EUA no continente, o que poderá gerar, nas próximas décadas, mudanças significativas nas relações políticas e econômicas entre países das Américas. A implementação desses conceitos terá um impacto real sobre a soberania dos países latino-americanos, afetando suas decisões autônomas em relações internacionais.
