Lula enfatizou em seu discurso a importância da colaboração entre os países do Brics, afirmando que a união das nações emergentes oferece uma alternativa robusta para contrabalançar as consequências do protecionismo. “O comércio e a integração financeira entre nossos países proporcionam uma opção segura para mitigar essas dificuldades”, declarou. Ele ressaltou que o Brics possui a legitimidade necessária para liderar uma renovação do sistema mundial de comércio, adaptando-o às reais necessidades de desenvolvimento dos membros do bloco.
O presidente brasileiro destacou ainda o papel do Novo Banco de Desenvolvimento, um instrumento que visa diversificar as economias e promover sinergias entre os países do Brics. Ao mencionar os números impressionantes que o grupo representa — 40% do PIB global, 26% do comércio internacional e quase 50% da população mundial — ele indicou o potencial da cooperação para estimular uma industrialização verde, criando empregos e promovendo inovação.
Por outro lado, Lula não hesitou em criticar a paralisia da Organização Mundial do Comércio (OMC), que enfrenta um impasse há anos. Ele apontou que práticas unilaterais e tarifas elevadas têm distorcido as regras do comércio internacional, subvertendo princípios fundamentais como a Nação Mais Favorecida. “A chantagem tarifária está se tornando uma prática comum, utilizada para conquistar mercados e interferir em assuntos internos”, alertou.
No contexto da atual governança global, Lula defendeu reformas nas instituições multilaterais, como o Conselho de Segurança da ONU e a OMC, afirmando a urgência de se apresentar uma frente unida na 14ª Conferência Ministerial da OMC, programada para o próximo ano em Camarões.
A reunião acontece em um cenário complexo, onde os Estados Unidos, através de tarifações e ações voltadas para o comércio, buscam restaurar sua competitividade, especialmente em relação à China. A abordagem adotada pelo governo dos EUA foi considerada por especialistas como uma tentativa de minar a influência do Brics nas relações comerciais globais.
Além desses pontos, Lula também abordou questões geopolíticas, citando o fracasso em resolver conflitos internacionais, como a guerra na Ucrânia e a situação na Faixa de Gaza. Ele enfatizou que a intervenção em assuntos internos não pode ser uma prática aceita e reafirmou a vocação pacífica da América Latina, relembrando o compromisso da região em se manter livre de armas nucleares.
Por fim, a cúpula teve como objetivo preparar os líderes para a 80ª Assembleia Geral da ONU, que ocorrerá em Nova York. Para Lula, essa é uma oportunidade de defender um multilateralismo renovado que enfrente os desafios contemporâneos, incluindo a governança digital e os impactos das mudanças climáticas, que devem ser abordados na COP30 em Belém, no próximo ano.
Participaram da cúpula líderes de nações como China, Egito, Indonésia, Irã, Rússia e África do Sul, além de representantes de outras potências emergentes. O diálogo reflete não apenas a busca por uma maior cooperação econômica, mas também a necessidade de enfrentamento conjunto aos desafios globais e à defesa de um mundo mais justo e equilibrado.