Desde 2018, o número de startups voltadas para a Amazônia cresceu exponencialmente, passando de aproximadamente 100 para 700 iniciativas. A previsão para 2027 é que esse número ultrapasse a marca de mil, com especial ênfase em setores da bioeconomia. Um dos focos principais é a aplicação da inteligência artificial no monitoramento do manejo sustentável do açaí, uma planta emblemática da região que, se bem utilizada, pode trazer benefícios econômicos e ambientais significativos.
Um exemplo inspirador é o programa Carbono Xingu, que surgiu de uma colaboração entre a SLC Agrícola, Agro Penido, Agrorobótica e Embrapa Instrumentação. Lançado no primeiro semestre de 2025, o programa utiliza tecnologia desenvolvida pela NASA, combinando IA e práticas de agricultura regenerativa. Com o objetivo de transformar grandes propriedades rurais em “usinas de sequestro de carbono”, a iniciativa monitorará inicialmente uma área de 8,9 mil hectares.
O sistema utiliza espectrometria a laser, com uma capacidade impressionante de analisar mais de mil amostras diárias, coletando dados sobre carbono e fertilidade do solo. Esses dados são armazenados na nuvem e, por meio da inteligência artificial, são avaliados em questão de segundos, resultando em laudos que orientam as práticas de manejo do solo. Esse método não apenas promove a adoção de técnicas mais sustentáveis, como também permite que essas propriedades gerem créditos de carbono para comercialização no mercado voluntário. Consequentemente, o solo dessas propriedades se transforma em um ativo ambiental, contribuindo para um aumento na produtividade e para a meta de emissão líquida zero de carbono.
Paralelamente, a Rede de Sementes do Xingu vem utilizando a tecnologia para impulsionar o seu trabalho na restauração florestal. Desde 2007, a rede já colheu e distribuiu mais de 390 toneladas de 220 espécies diferentes de sementes, restaurando quase 11 mil hectares de áreas degradadas. Lia Rezende, coordenadora de comunicação da rede, destaca a importância das inovações tecnológicas, que incluem o desenvolvimento de máquinas para beneficiar as sementes e o uso de ferramentas de comunicação para ampliar a visibilidade do trabalho realizado.
A técnica conhecida como muvuca, que combina diversas sementes para acelerar a recuperação da biodiversidade, é um exemplo de como a inovação pode se integrar a práticas tradicionais. A rede também começou a atuar na restauração ecológica desde 2019, recuperando cerca de 60 hectares no Xingu e gerando um impacto econômico que ultrapassa R$ 8 milhões, sobretudo para comunidades locais e grupos indígenas.
Essas iniciativas mostram que, com a união da tecnologia e do comprometimento com a natureza, é possível criar um ambiente mais sustentável e próspero para todos. A intersecção entre inovação e preservação ambiental não é apenas uma tendência, mas sim uma necessidade imperativa para o futuro da Amazônia e do planeta como um todo.