Em um desses estados, Alagoas, um soldado da Polícia Militar está sendo investigado por ter acessado dados pessoais do ministro no sistema Infoseg em 24 de março. O Infoseg é uma plataforma nacional que integra informações de órgãos de Segurança Pública, Justiça e Fiscalização, e somente agentes públicos dessa área têm acesso ao banco de dados. Este sistema permite a consulta de informações pessoais, incluindo endereços, telefones de contato, nomes de pais, processos judiciais, registros de veículos e armas.
A decisão recente do ministro Alexandre de Moraes, que suspendeu a plataforma X no Brasil, se fundamenta em uma investigação sobre vazamentos de dados pessoais envolvendo delegados da Polícia Federal, o próprio ministro e um empresário. A investigação revelou uma rede de 25 servidores públicos que acessaram informações sigilosas de maneira irregular. A suspeita é que, em alguns casos, esses servidores podem ter sido vítimas de hackers que utilizaram suas credenciais.
Dentre os investigados, a lista inclui desde integrantes de tribunais do trabalho e policiais rodoviários, até guardas municipais e agentes da Polícia Civil. Há também membros do Ministério Público e até um juiz. A gravidade da situação levou a Polícia Federal a instaurar um inquérito em 18 de março para apurar crimes como obstrução de investigação, organização criminosa e incitação ao crime. Este inquérito foi enviado ao ministro Moraes, que citou a investigação em sua decisão de suspender a plataforma X.
Um ponto crucial da investigação foi a descoberta do uso de VPNs para realizar consultas em massa. Por exemplo, um juiz do Tribunal de Justiça de São Paulo realizou 4.122 consultas de dados sigilosos em apenas um dia, utilizando VPN. Casos de acesso irregular também foram documentados anteriormente, como em 2021, quando a credencial de um policial militar de Goiás foi usada para fazer 17.792 consultas.
Em março, a Polícia Federal começou a investigar perfis em redes sociais que promoviam o “projeto Exposed”, cujo objetivo era expor policiais federais que cumpriam ordens do ministro Moraes. Esse projeto envolvia agentes públicos de vários estados que acessaram bancos de dados com informações restritas sobre o ministro e outros indivíduos. O grupo ofereceu suborno e trocou e-mails usando fotos de documentos para tentar implicar Moraes em investigações.
Uma auditoria no sistema Infoseg identificou os 25 agentes públicos que realizaram as consultas, detalhando cargos, funções e horários de acesso. O uso de VPN e robôs para realizar consultas em massa foi confirmado, com registros de milhares de acessos no mesmo dia. Em um exemplo específico, um policial rodoviário federal do Acre acessou dados de uma delegada federal durante o expediente, levantando suspeitas de vazamento de informações.
A Polícia Rodoviária Federal afirmou, por meio de nota, que não foi notificada sobre a investigação e só poderia se pronunciar após obter mais informações. Enquanto isso, o ministro Moraes destaca que a rede social X se recusou a bloquear contas que ameaçavam e coagiam delegados federais, não atendendo à ordem judicial para tais bloqueios.