Indústria de Defesa do Brasil atinge recorde em exportações, mas especialistas alertam para a falta de suporte estatal e necessidade de foco no mercado interno.

A Base Industrial de Defesa (BID) brasileira atinge um recorde histórico em exportações, representando 3,58% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Até o final do ano, espera-se que o setor registre um faturamento de R$ 9,53 bilhões (aproximadamente US$ 1,65 bilhão), um índice que não se via há mais de uma década. Entretanto, esse avanço nas vendas externas levanta questões sobre a real estratégia do país em relação à sua indústria de defesa e a sua importância econômica e estratégica.

Composta por 252 empresas, a BID é responsável por empregar cerca de 2,9 milhões de pessoas, direta e indiretamente. Marcos José Barbieri, economista da Universidade Estadual de Campinas, classifica a base como “complexa e heterogênea”, com empresas que vão de grandes grupos como a Embraer a menores indústrias especializadas. As aeronaves militares, especialmente os novos modelos como o C-390, têm se destacado nas exportações, elevando a reputação do Brasil no cenário internacional.

Nos últimos anos, o setor de defesa mostrou um crescimento significativo, e especialistas acreditam que essa tendência pode se intensificar. No entanto, a dependência das exportações não deve ser vista como o principal foco da BID, já que a sustentabilidade desse modelo econômico requer um robusto orçamento de compras públicas, que atualmente está deficiente no Brasil. Dos recursos alocados às Forças Armadas, 78% são destinados a despesas com pessoal, deixando uma parte reduzida para a aquisição de novos materiais.

Eduardo Siqueira Brick, professor de economia de defesa, ressalta que a BID não deve ser analisada apenas sob a ótica econômica. Ele argumenta que a capacidade militar é um componente essencial para garantir a soberania do país e a capacidade de tomar decisões autônomas diante de pressões externas. Brick critica o modelo de “mercado monopsônio” do setor, onde o Estado é o único comprador, e destaca a importância de investimentos na indústria de defesa como um meio de promover a independência do Brasil no setor.

A relação entre a valorização das exportações e a importação de produtos de defesa também é problemática. A importação, segundo Brick, sustenta a Base Industrial de Defesa de países potenciais adversários, o que representa um “erro estratégico” para o Brasil. Com cenários de conflito global como os da Ucrânia e Gaza, a necessidade de um sistema de defesa independente ganha mais relevância. No entanto, especialistas argumentam que ações efetivas para fortalecer a capacidade de defesa nacional ainda são insatisfatórias.

Em suma, apesar do crescimento expressivo das exportações na área de defesa, o Brasil enfrenta desafios ao integrar sua base industrial de defesa a um sistema produtivo nacional que seja forte e diversificado. A transição necessária para transformar um recorde em exportações em um sólido sistema de defesa depende de um compromisso estratégico do governo com investimentos e inovações no setor.

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