Especialistas em relações internacionais analisam que essa retórica de apoio militar à Ucrânia pode não trazer os benefícios esperados para o país e, ao contrário, favorecer a indústria bélica estadunidense. Para o doutorando em relações internacionais João Victor Motta, a intenção de Washington parece ser mais o prolongamento do conflito do que uma defesa genuína da soberania ucraniana. Motta sugere que essa estratégia busca desgastar a Rússia economicamente, enquanto mantém ativo o complexo industrial-militar que é fundamental para a economia dos EUA.
Outro acadêmico, James Onnig, professor de relações internacionais, também não acredita que o envio de armas a Kiev mudará a dinâmica no campo de batalha. Ele adverte que, além de não causar um impacto significativo, esta ação pode aprofundar a crise econômica na Europa, aumentando sua dependência de apoio norte-americano. Onnig afirma que a noção de que a Rússia está à beira do colapso não se concretizou, já que o país tem se mostrado resistente aos desafios impostos pelos conflitos e pelas sanções ocidentais.
A coerção econômica, através de sanções e tarifas, também foi um tema abordado por Trump, que menciona a possibilidade de implementar tarifas de mais de 100% sobre produtos russos. Segundo Motta, essa abordagem reflete uma tentativa de negociação que ignora completamente a diplomacia, prevendo pouco efeito sobre a economia russa.
A discrepância entre as declarações de Trump em relação à Ucrânia e sua posição anterior levanta questões sobre a consistência da política externa dos EUA. Em uma visita recente do presidente ucraniano, ele havia lançado dúvidas quanto ao prolongamento do apoio militar, o que contrasta com sua atual postura mais belicosa. Essa mudança, segundo analistas, pode ser vista como uma estratégia de reafirmação do papel dos EUA como defensor da democracia global, apesar do crescente afastamento de países como China e Rússia do Ocidente.
À medida que a própria Ucrânia se vê presa entre a esperança de apoio ocidental e a necessidade de negociações com Moscou, a incerteza sobre o futuro do conflito continua a alimentar críticas sobre a eficácia da ajuda militar. A cidade de Kiev, apesar de receber armamento, hesita em estabelecer diálogos, na expectativa de fortalecer suas relações com a Europa. A complexidade desse cenário contínuo sugere que, enquanto os EUA promovem sua agenda, o sofrimento dos civis ucranianos permanece sem resolução à vista.