Indústria Audiovisual Brasileira Cresce, Mas Profissionais Enfrentam Jornadas Exaustivas e Falta de Direitos Trabalhistas

Quase um ano após a aclamada trajetória do filme “Ainda Estou Aqui” no Oscar, o Brasil exibe novamente seu potencial no cenário internacional com “O Agente Secreto”. Este destaque não só celebra a crescente proeminência do cinema brasileiro, mas também revela o robusto desenvolvimento da indústria audiovisual no país, que se estabelece como um dos principais setores empregadores da nação. Contudo, essa expansão significativa ainda não se traduz em condições de trabalho adequadas para os profissionais da área, que frequentemente enfrentam postos temporários, jornadas extenuantes e mínimas garantias trabalhistas.

Dados de uma pesquisa realizada pela Oxford Economics mostram que a indústria audiovisual gerou nada menos que 608 mil empregos em 2023, um crescimento de 50% em relação ao setor automotivo. Além disso, a contribuição do audiovisual para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil alcançou impressionantes R$ 70,2 bilhões. Essa evolução não se limita apenas ao cinema; o setor abrange também a produção de conteúdo para televisão, plataformas de streaming, publicidade, redes sociais e podcasts. Apesar da cifra significativa de empregos, a maioria das posições disponíveis é temporária e carente de direitos trabalhistas adequados.

Mariana Costa, uma jovem de 24 anos que atua como assistente de direção e produtora, compartilha a realidade desafiadora enfrentada pelos trabalhadores do setor. “Às vezes, trabalho sem parar por um mês, e é necessário me organizar para garantir períodos de descanso, especialmente para cuidar da minha saúde mental”, revela. Mariana observa que, enquanto o cenário é mais favorável em campanhas publicitárias, as condições no cinema são complicadas, pois muitos profissionais são remunerados por diária, resultando em longas jornadas concentradas em poucos dias.

O salário médio no setor audiovisual atingiu R$ 6.800 em 2024, um valor consideravelmente superior à média nacional de R$ 3.057. Entretanto, Mariana ressalta que os altos salários são frequentemente acompanhados por longas horas de trabalho, com dias que podem ultrapassar 12 horas, sem considerar o tempo de deslocamento. “Embora possamos ganhar até R$ 20 mil por semana, essa carga horária é exaustiva, e faltam legislações que regulamentem a nossa atividade”, enfatiza.

Fernanda Lomba, cineasta e diretora do Nicho 54, frisa que o setor ainda carece de formalização e regulamentação. “É incomum encontrar um departamento de recursos humanos nas empresas do setor, e a carga de trabalho intensiva desafia a norma das 48 horas semanais”, aponta. Para lidar com essa realidade, surge a iniciativa da Federação da Indústria e Comércio do Audiovisual (Fica), um projeto que visa criar uma visão estratégica e de negócios para o audiovisual no Brasil, buscando políticas públicas e financiamentos específicos.

Walkíria Barbosa, diretora-executiva do Festival do Rio e uma das idealizadoras da Fica, menciona exemplos internacionais de sucesso, como o Dorama e o K-pop da Coreia do Sul. “Esses fenômenos não ocorreram por acaso; há uma engenharia por trás que impulsiona a indústria”, conclui Walkíria. Este movimento reflete não apenas a busca por dignidade e segurança para os trabalhadores, mas também a esperança de transformar o audiovisual brasileiro em um setor de referência global.

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