O governo Lula precisou recorrer novamente ao velho conhecido Arthur Lira (PP-AL) para tentar destravar a pauta fiscal e salvar o caixa da União. A tentativa de fazer de Hugo Motta (Republicanos-PB) um novo fiador da base governista não passou de um tropeço político. O paraibano, que herdou a presidência da Câmara com o apoio do Planalto, não conseguiu entregar o essencial: votos.
Na noite de quarta-feira (22), a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, reuniu-se com dois aliados próximos de Lira para pedir trégua. O alagoano andava irritado — e com razão. O governo flertava com a ideia de demitir Carlos Vieira da presidência da Caixa, cargo ligado ao grupo político de Lira, e ainda acenava com a possibilidade de entregar as nomeações ao novato Motta. Um erro duplo: comprou briga com o veterano e apostou num líder que não lidera.
Motta, por sua vez, tem repetido o que o mercado quer ouvir: não há clima para aumento de impostos. Mas o discurso, em vez de firmeza, soa como desobediência em Brasília. Resultado: o Planalto resolveu fazer o que sempre faz quando a água bate no queixo — correr para os braços do Centrão.
Lira, que há meses vinha mantendo distância calculada do governo, agora vê Lula voltar a procurá-lo com o pires na mão. A promessa da vez é tentadora: apoio — ou, no mínimo, silêncio — à sua candidatura ao Senado em 2026. O recado foi claro: “Ajude-nos a votar agora, que o futuro é seu.”
Enquanto o governo tenta costurar apoios, o ex-presidente da Câmara mantém o semblante impassível de quem sabe que tem o jogo nas mãos. Lira continua sendo o maestro informal da Casa, enquanto Motta tenta provar que toca algum instrumento.
Nos corredores do Congresso, a leitura é unânime: a “nova fase” da articulação política do governo durou menos que uma votação simbólica. Lula apostou em Motta para diminuir a dependência de Lira, mas o plano se desfez antes mesmo de chegar ao plenário.
No fim, nada mudou. O governo continua refém de Arthur Lira — e o alagoano, com a serenidade de quem já viu de tudo, assiste de camarote ao Planalto implorando ajuda para não naufragar antes de 2026.
