Essa amarga realidade não deve ser vista como um desestímulo, mas, sim, como um alerta para a transformação do futebol em um projeto de vida que vai muito além do simples ato de jogar. Muitas vezes, os pais encaram as habilidades de seus filhos como uma forma de investimento, como se o talento natural fosse um seguro de renda futura. O verdadeiro problema, porém, não reside na criança que sonha, mas no adulto que pressiona esse sonho como uma obrigação. Quando o desempenho não atende às expectativas, o peso da frustração se torna insuportável para aqueles que ainda estão em formação e que não deveriam carregar essa responsabilidade tão cedo.
A seleção impiedosa do “funil do futebol” não apenas limita o número de novos atletas profissionais, mas também molda o futuro de muitos que, ao longo do caminho, não conquistam seu lugar nas grandes ligas. Enquanto algumas pessoas se destacam nas telas, milhares ficam pelo caminho, muitas vezes convertendo suas esperanças em outras funções no esporte, como treinadores, analistas, fisioterapeutas, entre outros. O mercado, de fato, devolve mais talentos do que entrega estrelas.
Ademais, a geração atual enfrenta a dificuldade de lidar com a palavra “não”. Aqueles que sonham na ilusão de que o esforço é sinônimo de sucesso se deparam com a dura realidade de que essa crença pode levar à frustração severa. O esporte sempre foi um terreno fértil para se aprender a lidar com quedas e a se reerguer. No entanto, atualmente, muitos só se permitem voltar a levantar se for para conquistar troféus.
Em suma, o sonho de ser jogador de futebol é inegavelmente válido e importante, pois, afinal, sonhar é o que dá propósito à vida. Mas o erro não está em sonhar, e sim na crença de que esse sonho é o único caminho. O futebol pode ser uma via, mas não a única. Aqueles que compreendem essa realidade conseguem perceber que o aprendizado e as lições que o esporte traz vão muito além do desejo de alcançar o topo da pirâmide.
-
-
-
-
