O Flamengo espera a liberação dos treinos da base no Centro de Treinamento do Ninho do Urubu esta semana. O clube apresentou ao juiz da 1ª Vara da Infância, Juventude e do Idoso, Pedro Henrique Alves, as condições obtidas junto aos Bombeiros e a Prefeitura do Rio de Janeiro para a obtenção do alvará definitivo, e aguarda a revisão da decisão que proíbe os treinamentos e o alojamento da categoria no local. No total, 380 jovens seriam beneficiados, já que estão usando o CT do Audax, em São João de Meriti.
A questão do alojamento dos menores no Ninho do Urubu, no entanto, ainda é mais complicada, devido à pressão extra do Ministério Público do RJ. Por conta disso, a diretoria rubro-negra já indicou que vai dispensar cerca de 35 atletas, quase 10% do total, que estão com os pais no Rio de Janeiro no aguardo de uma definição. Entre eles, jogadores sobreviventes do incêndio.
A última esperança é um convite feito ao juiz Pedro Henrique Alves para visitar o módulo que era usado pelos profissionais até ano passado e este ano será o alojamento da base, para que ele reveja a decisão e libere tanto os treinos como a hospedagem.
Segundo a reportagem apurou, o clube entende que os treinamentos não possuem mais riscos, e por a questão do pernoite ser mais delicada, a efetiva noção da estrutura que será usada é imprescindível. Por isso, a demora e e iminente volta dos jovens que são de outros estados para seus locais de origem com os pais.
Em um primeiro momento, os atletas e as famílias estavam hospedados em um hotel na Zona Oeste. Os garotos só retornariam às atividades quando puderem se hospedar no módulo reformado do CT. Na semana passada, os pais dos jogadores disseram ter recebido contato do Ministério Público alegando que não poderiam deixar os meninos treinando desacompanhados. O órgão negou a recomendação. O Flamengo viu o episódio como uma tentativa de intimidação.
Clube omitiu problema em ar-condicionado de alojamento que pegou fogo
Os depoimentos de funcionários do Flamengo seguem indicando os caminhos para explicar o incêndio que deixou dez jovens da base mortos no Ninho do Urubu. Segundo Adalberto Lourenço, monitor do clube que estava acompanhando os menores no alojamento dois dias antes da tragédia, já havia acontecido um curto em outro ar-condicionado do contêiner, que pegou fogo. O teor do depoimento foi exibido pelo Esporte Espetacular, da TV Globo, ontem. Conforme indicou o depoimento, o ar que pegou fogo dois dias antes não foi o que causou o incêndio dois dias depois.
Apesar disso, o problema não foi relatado pelo clube em nenhum de seus posicionamentos sobre o tema. No pronunciamento do diretor-geral Reinaldo Belotti, no dia seguinte à tragédia, ele informou apenas que o Flamengo havia feito vistoria em todos os ares-condicionados naquele imóvel. “Temos isso registrado e podemos divulgar para quem quiser”, afirmou.
Semanas depois, no dia 24, o presidente Rodolfo Landim concedeu entrevista coletiva na sede da Gávea, e apenas esbarrou no assunto, ao dizer que “os circuitos de ar-condicionado eram totalmente independentes e tinham disjuntores”.
No domingo, o clube se manifestou de forma diferente. Confirmou que dois dias antes da tragédia “um dos aparelhos de ar-condicionado do módulo habitacional apresentou defeito”. E completou:
“Imediatamente após o problema ter sido detectado, foi chamada a empresa de manutenção, que retirou o equipamento, fez o devido reparo, colocou o aparelho de ar-condicionado em teste durante mais de 4 horas e liberou o equipamento para uso”.
A reportagem questionou o clube do porquê não ter informado sobre o problema através de seus dirigentes nas duas ocasiões, e se foi detectado algum motivo para o curto no dia 6 de fevereiro. Segundo o diretor de comunicação Bernardo Monteiro, a polícia foi informada.
A manutenção dos ar-condicionados era de responsabilidade da Colman – Serviço de Refrigeração, de Edson Colman, que há 28 anos presta serviços para o Flamengo. Em seu depoimento, Colman diz que esteve no Ninho no fim de janeiro para uma manutenção de rotina e retirou dois aparelhos para uma revisão mais detalhada, mas não trocou nenhuma peça e os reinstalou. Um dos aparelhos foi o que pegou fogo no dia seis, dois dias antes da tragédia. Segundo o depoimento, Colman foi chamado naquele dia para restabelecer o funcionamento do aparelho e fez uma emenda com fita isolante, diz o Extra.
De acordo com a perícia, o incêndio começou no ar-condicionado do quarto seis, onde todos os meninos que dormiam conseguiram escapar. Depois, um curto-circuito no quarto de número 4 teria gerado um segundo foco de incêndio. Os cinco garotos que dormiam lá morreram. Ainda de acordo com a perícia, o ar-condicionado que teria pegado fogo dois dias antes seria o do quarto 3 – ou seja, um aparelho diferente dos que causaram a tragédia.
18/03/2019