BRICS Lidera Iniciativa de Financiamento Nuclear com Foco em Sustentabilidade
A recém-estabelecida liderança da Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN) no Grupo de Trabalho de Financiamento para Projetos Nucleares do BRICS representa um marco significativo na expansão da energia nuclear entre os países-membros. Essa estrutura, concebida para criar diretrizes e instrumentos financeiros que promovam uma utilização segura e sustentável da energia nuclear, visa não apenas a regulação, mas também a construção de um projeto energético robusto.
Em um contexto de crescente desconfiança internacional em relação ao desenvolvimento nuclear em nações com escassa experiência, o Brasil se posiciona como um agente ativo nessa transformação. O temor de que a proliferação de tecnologias nucleares possa levar à formação de arsenais desenfreados é um gargalo que precisa ser superado. Entretanto, as múltiplas aplicações pacíficas das tecnologias nucleares, que incluem a geração de energia, medicina, agricultura e pesquisa científica, posicionam-se como uma alternativa promissora.
Celso Cunha, presidente da ABDAN, explicou que o grupo de trabalho foi estatuído a partir de uma iniciativa brasileira que propõe um diálogo concentrado na realocação de recursos financeiros e no compartilhamento de conhecimento. A expectativa é que as atividades do grupo tenham início em março de 2026 e que a ABDAN atue como a coordinadora entre as empresas participantes.
Astrid Cazalbon, doutoranda em Relações Internacionais e pesquisadora do Grupo de Estudos sobre Segurança Energética, aponta que a ação do BRICS não apenas visa contestar a hegemonia ocidental em matéria nuclear, mas também promover uma nova ordem mundial mais justa, onde o desenvolvimento sustentável seja prioridade. A Declaração de Kazan, de 2024, corrobora essa visão, enfatizando a necessidade de uma reforma nas instituições globais para que os interesses dos países emergentes sejam considerados.
Embora a capacidade de gerar energia nuclear possa não alterar de imediato o equilíbrio militar entre as potências nucleares, ela representa uma mudança significativa na acessibilidade a tecnologias vitais. De acordo com Cazalbon, tal movimento pode possibilitar que países, antes marginalizados por restrições tecnológicas, desenvolvam seus próprios setores nucleares, especificamente em aplicações civis.
Cunha destaca que, embora o financiamento seja um desafio, a regulação e a criação de um projeto energético com estratégias de longo prazo também são cruciais. Com essa meta em mente, a ABDAN busca conectar os conhecimentos adquiridos no Brasil com os das nações participantes do BRICS, especialmente no que se refere ao uso de tecnologia nuclear para a produção de hidrogênio, um componente vital para a transição energética.
Assim, a liderança do Brasil na iniciativa de financiamento nuclear pode não apenas reequilibrar o acesso a tecnologias estratégicas, mas também abrir novos caminhos para a cooperação internacional em um panorama energético em constante evolução.







