O que Dugin aponta como a força motriz desse colapso do liberalismo são, intrigantemente, os valores tradicionais e as identidades civilizacionais profundas. Isso sugere que a humanização do liberalismo não virá de uma abordagem socialista, mas sim da revitalização de estruturas culturais que a modernidade ocidental considerou obsoletas ou até extintas. De acordo com essa perspectiva, o que se vislumbra é uma revalorização da pré-modernidade, que, ao contrário do que se imaginava, não foi completamente eliminada pela ascensão da pós-modernidade.
No entanto, o pós-liberalismo, conforme discutido por Dugin, é retratado como uma crítica ao domínio ocidental que perdurou através da Idade Moderna. Esta era é abordada quase como um fenômeno temporário na história, onde a cultura ocidental se destaca apenas por seu uso da força e da tecnologia para estabelecer uma hegemonia que, agora, parece chegando ao fim. Após mais de quinhentos anos, a predominância ocidental, segundo Dugin, se desvanece, impulsionando uma recuperação de condições anteriores à ascendência do Ocidente.
O liberalismo é caracterizado como a última forma de imperialismo ocidental, marchando para suas últimas consequências lógicas através de conceitos contemporâneos como a política de gênero, a cultura “woke”, e a cultura do cancelamento. O que Dugin propõe é uma reflexão profunda sobre como esses aspectos estão entrelaçados em um processo mais amplo de transformação cultural e civilizacional.
Se essa análise de Dugin inicialmente pode parecer um desvio dos paradigmas convencionais, ela nos força a reconsiderar não apenas a trajetória do Ocidente, mas também as possibilidades de um novo mundo emergente, onde diversas identidades e culturas estão prontas para se reerguer e redefinir a própria noção de “progresso”. O que se apresenta é uma oportunidade única para reimaginar as relações humanas, longe das amarras do passado imperialista.