Feminicídio de Eliane de Grammont: o trágico legado de Lindomar Castilho e a luta pela justiça que mobilizou o Brasil nos anos 80

Lindomar Castilho, um artista que conquistou corações no Brasil durante as décadas de 1960 e 1970, se tornou o protagonista de uma trágica história que abalou o país nos anos 80. No dia 30 de março de 1981, o cantor assassinou sua ex-esposa, Eliane de Grammont, um caso que gerou grande comoção social e se tornou símbolo de um dos feminicídios mais emblemáticos da história brasileira. O crime não só chocou a sociedade como também desencadeou uma série de protestos feministas ao longo do país, clamando por justiça e por uma reflexão profunda sobre a violência contra a mulher.

Eliane conheceu Lindomar em 1977, durante uma fase promissora de sua carreira musical, na gravadora RCA. O reconhecimento do artista como o “rei do bolero” atraía olhares e carinho, e, após um ano, o casal se casou. No entanto, a felicidade não durou. A violência e o alcoolismo de Lindomar tornaram a convivência insustentável, levando Eliane a solicitar a separação um ano após o casório. Tornando-se uma mulher independente, tentou re-ingressar no mundo da música, porém seus sonhos foram interrompidos de forma brutal.

Na fatídica noite do crime, Eliane estava se apresentando em uma boate em São Paulo, acompanhada pelo músico Carlos Randall, quando Lindomar, armado, invadiu o local e disparou contra ela. Mesmo após ser ferida, Eliane não resistiu aos ferimentos e faleceu a caminho do hospital. Lindomar foi preso em flagrante, mas aguardar o julgamento em liberdade, o que permitiu que ele convivesse com sua filha, que havia ficado sob a guarda dos avós maternos.

O julgamento, marcado para agosto de 1984, atraiu a atenção de ativistas que se mobilizaram em apoio à vítima, promovendo vigílias e protestos em frente ao Tribunal de Justiça. A defesa de Lindomar, em uma manobra que ecoou em outros casos de feminicídio, tentava deslegitimar Eliane, a retratando como uma mãe descuidada e insinuando relacionamentos inadequados. Lindomar, por sua vez, alegou ter agido em estado de “violenta emoção”.

Recentemente, Lili de Grammont, filha do casal, compartilhou suas reflexões sobre a perda da mãe e a complexidade da relação com o pai, expressando que o perdão não era uma resposta simples, mas sim um processo repleto de nuances. Sua declaração ecoa a dor e a luta de tantas mulheres que, a exemplo de Eliane, se tornaram vítimas da violência de gênero, clamando por mudanças na sociedade e no sistema de justiça. A luta continua, e as lembranças de Eliane de Grammont permanecem vivas na memória coletiva, servindo como um alerta sobre a necessidade de se combater a impunidade e a misoginia.

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