Polícia Federal Desvenda Suposto Esquema de Corrupção Envolvendo Emendas de Relator e Kits de Robótica em Alagoas
Em um dia aparentemente corriqueiro de junho do ano passado, agentes da Polícia Federal, em uma operação planejada, desembarcaram em uma casa simples situada em Ceilândia, uma das áreas mais precárias nos arredores de Brasília. A missão, até então envolta em sigilo, trouxe à tona um intrincado esquema de corrupção que envolvia figuras políticas de destaque, como o deputado Arthur Lira (PP-AL).
Durante a operação, ao revisarem um veículo estacionado na propriedade, os policiais descobriram uma agenda que documentava transações financeiras totalizando centenas de milhares de reais. O veículo e a agenda pertenciam a Wanderson de Jesus, motorista de Luciano Cavalcante, principal assessor de Arthur Lira. Ambos estavam sob o radar das autoridades devido a denúncias de um esquema de desvio milionário de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). O esquema, supostamente, envolvia a venda superfaturada de kits de robótica para escolas públicas no estado de Alagoas.
A agenda continha detalhes que associavam o nome de Arthur Lira a vários valores, levantando suspeitas de que despesas pessoais do deputado estariam sendo financiadas com os fundos desviados. Segundo a Polícia Federal, a fraude funcionava através do FNDE, que enviava verbas para a compra de kits de robótica em pequenos municípios alagoanos. Estas localidades adquiriam os kits de uma empresa chamada Megalic, pertencente a um aliado da família Lira, com preços inflacionados. O valor extra era, então, transferido para empresas de fachada controladas pelo empresário Pedro Magno.
A investigação revelou que Pedro Magno realizava saques fracionados de grandes somas de dinheiro. Partes significativas desses montantes foram encontradas no imóvel de Wanderson de Jesus. As notas da agenda descobertas na Ceilândia pareciam funcionar como um livro-caixa do esquema, registrando despesas que alegadamente beneficiariam Arthur Lira.
Um novo elemento surgiu recentemente, aumentando ainda mais as suspeitas. Uma nota fiscal de janeiro de 2023 da renomada loja de alfaiataria Ricardo Almeida mostrava a compra de um terno de R$ 8.190, em nome de Arthur Lira, mas com o CPF de Wanderson de Jesus. O valor e a data da compra coincidiam com registros na agenda, reforçando a hipótese de que o deputado estava sendo beneficiado pelo esquema.
O inquérito foi submetido ao Supremo Tribunal Federal (STF), devido ao foro privilegiado de Lira. Porém, em setembro, o ministro Gilmar Mendes decidiu arquivar a investigação e ordenou a destruição das provas, acolhendo o argumento da defesa de que a investigação deveria ter tido início em uma instância superior.
Ainda que paralisada, a investigação ganhou novo fôlego na semana passada. O ministro Flávio Dino do STF enviou à Procuradoria-Geral da República (PGR) uma lista de processos relacionados a possíveis irregularidades na gestão de emendas de relator, incluindo o caso dos kits de robótica. A decisão sobre a reabertura do inquérito agora está nas mãos do procurador-geral Paulo Gonet.
Até o momento, Arthur Lira, Wanderson de Jesus e Luciano Cavalcante não se pronunciaram sobre as recentes revelações. A expectativa em torno de possíveis desdobramentos mantém a atenção voltada para o caso, que segue sendo um dos focos de maior interesse no cenário político e judicial brasileiro.