Durante a investigação, a defesa de Bolsonaro afirmou que o ex-presidente agiu dentro da lei ao declarar oficialmente os bens recebidos em viagens, considerando esses itens de caráter personalíssimo e parte de seu acervo privado. No entanto, o Tribunal de Contas da União já havia estabelecido em 2016 que objetos de luxo recebidos por autoridades públicas deveriam ser incorporados ao acervo público, com exceção de itens de natureza personalíssima, o que não incluiria joias.
O ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, deu diversas versões sobre a venda das joias, chegando a afirmar que vendeu um Rolex a pedido de Bolsonaro e que o pagamento foi entregue ao ex-presidente ou à primeira-dama. Ambos são suspeitos de participarem de um esquema de apropriação irregular de kits de joias recebidos por Bolsonaro em viagens oficiais, que incluíam relógios, abotoaduras, rosários, esculturas e anéis.
A investigação da PF encontrou indícios de que parte dessas joias foram retiradas do Brasil durante missões oficiais e posteriormente comercializadas em lojas nos Estados Unidos. Segundo apurado, Mauro Cid teria dado instruções aos seus subordinados para vender as joias em joalherias e leilões virtuais, com parte do dinheiro sendo repassado à conta de seu pai, possivelmente destinado ao ex-presidente.
A investigação teve início em março de 2023, após um kit de joias presenteado pelos sauditas ter sido retido na alfândega do aeroporto de Guarulhos por não ter sido declarado. Após a descoberta das irregularidades, uma operação foi montada para recuperar os itens vendidos no exterior. O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro fechou um acordo de delação premiada com a PF e diligências foram realizadas nos Estados Unidos para reunir mais provas da comercialização das joias.
Este não é o primeiro indiciamento de Bolsonaro e Cid pela PF, que já foram acusados anteriormente de associação criminosa e inserção de dados falsos em sistema de informação em um inquérito sobre suposta fraude em certificados de vacinação contra Covid-19. O desdobramento desse novo caso irá depender das próximas decisões da Procuradoria-Geral da República e do andamento do processo criminal.