Esses indivíduos foram submetidos a um tratamento brutal: seus corpos foram queimados, desmembrados e os ossos apresentaram sinais de terem sido cozidos. As evidências apontam para um evento violento que pode ter sido causado por conflitos entre comunidades agrícolas locais e recém-chegados. Francesc Marginedas, membro da equipe de pesquisa, enfatiza que a rapidez dos acontecimentos sugere que não se tratava de uma resposta à fome, mas sim de uma eliminação deliberada de um grupo familiar, refletindo a gravidade dos conflitos intergrupais da época.
Comparando El Mirador a outros locais na Europa, como a caverna Herxheim, os pesquisadores notaram um padrão em que o canibalismo era uma prática habitual durante períodos de intensa hostilidade. Esses achados não só desafiam a percepção das sociedades neolíticas como sociedades pacíficas, mas também enriquecem o entendimento contínuo do comportamento humano sob circunstâncias extremas.
A recorrência do canibalismo em diferentes contextos históricos revela que tais práticas, embora consideradas repugnantes nos dias atuais, eram uma faceta de sobrevivência ou de confronto social em épocas remotas. A caverna El Mirador, portanto, não só é um importante sítio arqueológico, mas também um reflexo da complexidade das relações humanas nos primórdios do desenvolvimento social. As implicações dessas descobertas são profundas, abrindo novas discussões sobre a natureza humana e a evolução dos comportamentos sociais através das eras.