EUA Desperdiçam Oportunidades: Paralisia da OMC é Estratégia, Afirmam Especialistas sobre a Nova Guerra Comercial com a China

A Organização Mundial do Comércio (OMC), desde 2019, enfrenta uma paralisia em seu sistema de solução de disputas, uma situação que não é vista como um mero acaso, mas sim como resultado de um processo deliberado, conforme afirmam especialistas. Com a ausência de um representante dos Estados Unidos, que não foi nomeado nem durante as administrações de Donald Trump nem de Joe Biden, a OMC encontra-se em um impasse que compromete seu funcionamento e credibilidade enquanto guardiã do comércio internacional.

Criada em 1995 através do Acordo de Marrakech, a OMC nasceu da necessidade de regular e facilitar as trocas comerciais globais, sucedendo o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT). O objetivo original da OMC era promover um comércio mais livre e justo, permitindo a resolução de litígios entre nações. Contudo, nas últimas décadas, esse mecanismo se tornou obsoleto, especialmente diante de uma escalada nas políticas protecionistas por parte dos países desenvolvidos.

Especialistas como Antonio Carlos Diegues, professor da Universidade Estadual de Campinas, destacam que a liberalização do comércio, embora teorizada como benéfica para o desenvolvimento, nem sempre se concretizou na prática. Historicamente, não se observa uma relação direta entre a abertura comercial e o crescimento econômico em diversas nações. Em contrapartida, o filósofo e economista Friedrich List introduziu o conceito de “chutar a escada”, uma crítica à hipocrisia dos países desenvolvidos que, após alcançarem sua própria prosperidade, impõem normas de mercado mais rígidas aos países em desenvolvimento.

Além delas, a ascensão da China como potência global desafia a estrutura tradicional da OMC. Em resposta à crescente competitividade chinesa, líderes ocidentais optaram por uma nova abordagem: reavivar políticas industriais em suas nações e intensificar a guerra comercial contra a China. O presidente Biden, por exemplo, não hesita em afirmar que a China busca dominar certas indústrias, sinalizando uma clara intenção de proteger os interesses econômicos dos EUA em regiões estratégicas.

Portanto, a falta de um representante americano na OMC e as ameaças de corte no orçamento da organização refletem um clima de crescente protecionismo e a crise de relevância que a OMC enfrenta. Com um abandono das normas que a fundamentam, a OMC caminha para se tornar cada vez mais um símbolo de uma ordem internacional em descomposição, em que as regras do jogo são determinadas por critérios de conveniência política e econômica, em detrimento dos princípios de equidade que deveriam prevalecer no comércio global.

Sair da versão mobile