O historiador e professor Urano de Cerqueira Andrade dedicou-se por décadas à pesquisa desses documentos, especializando-se em história social e econômica do Brasil Colônia. Como coordenador técnico do projeto Digitalizando Fontes Manuscritas Ameaçadas, financiado pela Biblioteca Britânica, Urano liderou uma equipe que digitalizou 1.465 livros notariais, abrangendo o período de 1664 a 1920.
Dentro desse vasto acervo, foram tabuladas 19.726 cartas de alforria registradas de 1800 a 1855, contendo informações como nome da pessoa alforriada, idade, origem, cor, ofício, valores pagos e condições impostas pelos senhores para a concessão da liberdade. Esse tratamento estatístico dos dados revela não apenas a quantidade, mas também as nuances e particularidades dessas histórias.
O estudo dessas cartas de alforria nos leva a refletir sobre a realidade cruel da escravidão, que não poupava seus cativos de tratamentos desumanos e degradantes. Ainda hoje, o legado dessas histórias nos faz questionar valores e ideologias enraizadas na sociedade.
Urano Andrade, com sua expertise em paleografia, enfrentou o desafio de decifrar escritas antigas e difíceis de identificar, buscando compreender e interpretar fielmente cada registro. Sua dedicação e conhecimento proporcionaram insights valiosos sobre a escravidão no Brasil e a complexidade das relações sociais da época.
Os livros de compra e venda, as cartas de alforria e os testamentos revelam não apenas as transações comerciais, mas também aspectos da vida cotidiana, das relações de poder e das práticas sociais de uma época marcada pela escravidão. A documentação histórica disponível permite reconstruir trajetórias individuais e coletivas, ampliando nosso entendimento sobre a história do Brasil e suas nuances.