ESPORTE – FMUSP recebe cérebro de Maguila para estudos sobre doença degenerativa: Encefalopatia Traumática Crônica (ETC) afeta ex-atletas e preocupa especialistas.

A Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) anunciou oficialmente, nesta sexta-feira (25), que recebeu o cérebro do renomado ex-pugilista José Adilson Rodrigues dos Santos, conhecido como Maguila, para ser utilizado em estudos sobre a Encefalopatia Traumática Crônica (ETC). Esta doença degenerativa afeta as células cerebrais devido aos impactos repetidos na cabeça, e Maguila conviveu com ela por 18 anos até falecer na última quinta-feira (24) aos 66 anos.

A viúva de Maguila, Irani Pinheiro, confirmou em uma coletiva de imprensa realizada na Assembleia Legislativa de São Paulo que o ex-pugilista havia decidido em vida pela doação de seu cérebro para a pesquisa. O órgão cerebral de Maguila é o terceiro de um atleta que o Biobanco para Estudos em Envelhecimento da FMUSP tem acesso, sendo que os cérebros de outros dois campeões mundiais, o ex-pugilista Éder Jofre e o ex-jogador de futebol Bellini, já foram analisados e apresentaram diagnóstico positivo para a ETC.

Maria Elisabeth Ferraz, coordenadora do Departamento Científico de Traumatismo Cranioencefálico da Academia Brasileira de Neurologia, ressaltou a importância da disponibilidade do tecido cerebral desses atletas para a pesquisa científica. A médica explicou que a meta principal é a prevenção da ETC, mas que diagnósticos mais precoces podem ser extremamente benéficos. Ferraz destacou que a doença pode resultar em alterações de comportamento, psiquiátricas, cognitivas, de memória e de equilíbrio, e que o desenvolvimento de biomarcadores e exames laboratoriais pode auxiliar na prevenção.

A descoberta da ETC foi realizada pelo neuropatologista Bennet Omalu em 2002, após analisar o cérebro do ex-jogador de futebol americano Mike Webster, falecido aos 50 anos. A doença ganhou notoriedade e levou a Liga Nacional de Futebol Americano (NFL) a estabelecer protocolos de concussão e investir em tecnologia para aumentar a segurança dos jogadores. A importância dos estudos sobre a ETC vai além do esporte, com Maria Elisabeth apontando que qualquer tipo de impacto repetitivo no cérebro, como na violência doméstica, pode resultar em alterações neurológicas graves.

Em um cenário onde oito mulheres são vítimas de violência doméstica a cada 24 horas em oito estados brasileiros monitorados pela Rede de Observatórios da Segurança, a importância de estudar e compreender a Encefalopatia Traumática Crônica é cada vez mais evidente. A pesquisa realizada com o cérebro de Maguila e outros atletas pode contribuir significativamente para a prevenção e o tratamento dessa condição neurológica degenerativa.

Portanto, a doação do cérebro de Maguila para os estudos sobre a ETC representam um marco na pesquisa médica e na busca por avanços no tratamento e na prevenção dessa doença impactante. A ciência e a comunidade médica estão empenhadas em estudar e compreender melhor os efeitos da ETC, visando proteger a saúde cerebral de atletas e indivíduos em geral.

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