Especialistas Debatem Prioridades no Orçamento de Defesa do Brasil: O Que Importa é Como Investir, Não Quanto

Nos últimos tempos, a discussão sobre os gastos com defesa no Brasil tem ganhado destaque, especialmente após o anúncio da OTAN sobre a meta de 5% do PIB a ser destinada anualmente a investimentos militares. Enquanto essa diretriz provoca debates entre os países membros da aliança, analistas brasileiros afirmam que o foco do Brasil não deve ser apenas o quanto gastar, mas como esse dinheiro será empregado de forma eficaz e estratégica.

O pesquisador Jorge Oliveira Rodrigues, ligado ao Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, argumenta que a alocação de recursos para defesa deve ser feita dentro de um contexto mais amplo, alinhado com outras políticas públicas que garantam a segurança e a soberania do país. Ele critica a ideia de vincular gastos em defesa ao PIB, considerando essa abordagem uma “grotesca” concepção do tema. Para Rodrigues, é crucial que o debate sobre o orçamento militar não se restrinja a números, mas sim que dialogue com a realidade brasileira e suas condições específicas.

De acordo com o doutor Fabricio Ávila, presidente do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia, o Brasil atualmente investe cerca de 1% do PIB em defesa, uma cifra que considera já reduzida ao longo das últimas décadas. Assim, sugerir um aumento para 5% seria desproporcional e não atendeu às reais necessidades de prontidão das Forças Armadas. Para ele, o gasto ideal seria ao menos de US$ 200 por habitante, o que representaria um retorno a níveis atingidos no início dos anos 2000.

A questão central do debate também aponta para a identificação de possíveis ameaças, questionando quem seria o inimigo do Brasil. Rodrigues ressalta que a compreensão do contexto geopolítico é essencial para orientar as decisões de investimento em infraestrutura e projetos militares, como o KC-390 da Embraer. Ele alerta que a perda de soberania em áreas estratégicas poderia ser um risco significativo.

Ambos os especialistas concordam que, ao invés de seguir cegamente o modelo da OTAN, seria mais proveitoso para o Brasil buscar parcerias em segurança coletiva com países da América do Sul, promovendo um clima de confiança que evite escaladas de tensão. Além disso, Ávila destaca que, mesmo com a paz histórica na região, existe espaço para um diálogo coletivo sobre o investimento militar adequado, sem que isso leve a uma corrida armamentista.

Essas considerações surgem em um momento em que a Câmara dos Deputados está analisando um reajuste salarial significativo para os militares, o que torna ainda mais pertinente a discussão sobre a eficiência e a necessidade dos gastos em defesa no Brasil. O tema é complexo e demanda uma análise cuidadosa, levando em conta não apenas a cifra do orçamento, mas a preparação e a eficácia das Forças Armadas diante de suas reais atribuições e desafios.

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