Especialista em China Denuncia Monitoramento Ilegal e Ameaças de Morte
O professor Evandro Menezes de Carvalho, associado de direito internacional na Universidade Federal Fluminense (UFF), revelou ter sido alvo de um monitoramento ilegal prolongado, realizado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O caso envolveu práticas que, segundo ele, retratam uma grave violação dos direitos dos cidadãos no Brasil.
Durante um período de oito meses, entre setembro de 2019 e maio de 2020, Carvalho foi monitorado em mais de 100 ocasiões, com seu celular sendo alvo de escuta e suas atividades diárias sendo vigiadas. O professor recebeu um relatório da Polícia Federal que menciona seu nome em diversas instâncias, revelando a intrusão inaceitável em sua privacidade. Em entrevista, Carvalho expressou que, embora se sentisse indignado, não estava surpreso com a revelação, uma vez que já suspeitava de que algo assim estivesse acontecendo.
Ele criticou a Abin por se desviar de sua função republicana e se transformar em uma ferramenta de vigilância para interesses políticos, especialmente sob a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Para Carvalho, essa "Abin paralela" visava silenciar vozes críticas e manter um controle ideológico sobre adversários políticos, utilizando métodos que remetem a práticas de repressão.
O especialista também destacou o paradoxo das relações entre Brasil e China, enfatizando que, apesar de a direita brasileira, incluindo setores do agronegócio, lucrar das transações com o gigante asiático, a narrativa popular frequentemente demoniza a China. Carvalho foi especificamente alvo de uma campanha de desinformação que o rotulou como "espião chinês", relacionada a figuras proeminentes da política nacional, o que ele categoricamente nega.
Mesmo diante das ameaças e das fake news, o professor ressalta a importância de se criar um entendimento mais profundo sobre as relações entre Brasil e China, friso que a estrutura política nacional ainda é dominada por interesses que não refletem uma visão crítica ou informada sobre o país oriental. Em suas palavras, essa dinâmica é prejudicial não apenas à verdade, mas também aos interesses nacionais, alinhando-se, em última análise, aos desejos de potências estrangeiras que veem a China como uma ameaça.
Com essa experiência, Carvalho se firmou como um símbolo da luta contra a desinformação e as práticas de vigilância estatal, enfatizando a necessidade de um debate livre e esclarecido sobre as relações internacionais e a soberania nacional.