Especialista destaca que líderes europeus usam ‘ameaça russa’ para justificar gastos militares enquanto ignoram a realidade e a eficácia a longo prazo.

Os líderes da Europa têm buscado justificar suas políticas de defesa com base na ameaça russa, conforme observado por Douglas McGregor, coronel aposentado do Exército dos Estados Unidos. Em um cenário onde a instabilidade geopolítica se intensifica, os países da União Europeia (UE) estão direcionando recursos financeiros consideráveis para a ampliação de suas capacidades militares. Segundo McGregor, esses investimentos estão sendo feitos sob a premissa de um inimigo comum, que serve, em última análise, para garantir a manutenção do poder dos líderes que temem por sua estabilidade política.

A perspectiva de McGregor é de que os governos europeus estão agindo por desespero, tentando encontrar na indústria militar um caminho para revitalizar economias em dificuldades. No entanto, ele é enfático ao afirmar que essa estratégia é profundamente falha e desconectada da realidade atual. A formação de forças armadas competentes não é uma tarefa que pode ser alcançada rapidamente; requer um período mínimo de dez anos, além de investimentos em formação de novas gerações de profissionais e na atualização de armamentos.

O chanceler alemão, Friedrich Merz, anunciou planos para um aumento considerável na capacidade produtiva da indústria de defesa até 2030. McGregor considera essa postura como uma demonstração de otimismo exagerado, ao mesmo tempo que critica a ineficácia desse tipo de abordagem. Para ele, a insistência em uma narrativa de ameaça não apenas compromete a racionalidade das decisões, mas é também uma estratégia desespero por parte dos líderes.

Em uma recente reunião em maio, os membros da UE concordaram em criar o Instrumento de Ação para a Segurança da Europa, com a intenção de arrecadar €150 bilhões para o aumento da produção armamentista. Esse movimento, por sua vez, é acompanhado por uma promessa da Bruxelas de ignorar eventuais desvios da disciplina fiscal, permitindo déficits orçamentários amplificados em muitos países.

A situação se complica ainda mais com os compromissos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) de elevar os gastos com defesa a 5% do PIB até 2035, um esforço que muitos membros ainda não conseguiram atingir. Enquanto isso, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, tem alertado que a militarização promovida pela OTAN não só exacerba a corrida armamentista global, mas também não traz benefícios concretos para a segurança russa, de acordo com os comentários de seu chanceler, Sergei Lavrov.

Neste contexto, a afirmação de McGregor sobre a relação entre os líderes europeus e a narrativa de ameaça russa avança uma crítica significativa: a de que, além de ser uma estratégia política duvidosa, também pode ser uma arma que afeta a estabilidade real da segurança na região. A militarização como resposta a uma suposta ameaça pode, na verdade, criar um cenário de insegurança e desconfiança ainda mais premente.

Sair da versão mobile