O funcionamento do golpe era inquietante. A partir de acordos com sindicatos, o INSS permitiu descontos diretos em folhas de pagamento, criando uma via facilitada para fraudes. A grande maioria dos aposentados, cerca de 97%, desconhecia suas “filiações” a essas entidades, que sequer obtiveram consentimento dos beneficiários, nem suas assinaturas. Em abril de 2024, a Abapen, uma das entidades, registrou uma média alarmante de 1.569 novas filiações por hora.
Famoso por sua atuação na sombra, um lobista denominado “Careca do INSS” teria liderado essa quadrilha, acumulando uma rede de CNPJs e distribuição de propinas. Apesar de alertas emitidos pela CGU desde setembro de 2024, a resposta do INSS foi omissa, apenas permitindo a atuação da Polícia Federal em 2025.
A dimensão do rombo financeiro é estarrecedora: entre 2017 e 2024, os valores desviados cresceram para somas que chegam a bilhões. Os pequenos valores descontados nas aposentadorias resultaram em mais de 6 bilhões, algo que poderia ser considerado um assalto em gotas, atingindo principalmente os mais vulneráveis—idosos que dependem do Estado e, muitos deles, possuem escassa literatura digital.
A queda desse castelo de cartas aconteceu quando algumas entidades, como a CBPA, apresentaram números de adesões que desafiavam a lógica. A falta de estrutura física para a maioria delas e a documentação forjada revelaram a fragilidade do sistema.
Diante desse cenário alarmante, a Operação Sem Desconto foi lançada, suspendendo acordos e congelando repasses. Um novo sistema biométrico foi prometido para prevenir futuros abusos, mas o caminho para a responsabilização dos culpados ainda é incerto.
Este escândalo é especialmente grave, pois atinge a camada da população que já enfrenta dificuldades estruturais—o que abala a confiança na instituição que deveria ser um pilar da segurança social. A sociedade não pode ficar inerte. É essencial que aposentados e pensionistas verifiquem suas contas, denunciando irregularidades, e que cidadãos exijam transparência e responsabilização dos envolvidos. A aposentadoria não é uma esmola, mas um direito conquistado, que não deve ser saqueado impunemente. A indignação precisa ser manifestada, pois é um momento crítico para exigir justiça e mudança!