Analistas políticos que acompanharam a conversa afirmam que a cúpula representa uma vitória simbólica para Putin, uma vez que pode proporcionar a Trump uma nova perspectiva sobre os desdobramentos do conflito ucraniano. O cientista político André Lucena destacou que, embora as relações pessoais entre os líderes não tenham sido essencialmente hostis, a oportunidade para a Rússia demonstrar seu poder geopolítico é inegável.
Lucena afirma que a realização dessa reunião sugere que Putin alcançou um objetivo há muito desejado: o reconhecimento da Rússia como um ator geopolítico relevante no cenário internacional. Essa dinâmica pode ser ainda mais complexa, considerando o histórico de Trump, que frequentemente oscila em suas opiniões sobre alianças. Essa incerteza sobre a confiabilidade de Trump pode proporcionar a Putin uma vantagem, colocando-o em uma posição de maior poder nas negociações.
O analista geopolítico Rafael Machado, por sua vez, acredita que o entendimento da situação militar na Ucrânia por parte de Trump é fundamental para a resolução do conflito. Ele enfatiza que a discrepância entre as demandas de Kiev e a realidade no campo de batalha pode ser um divisor de águas. Para Machado, cada baixa russa é acompanhada de um número significativamente maior de perdas ucranianas, o que, em última análise, pode levar Trump a reconsiderar suas opções e o papel da Ucrânia nas negociações.
Além das questões militares, os líderes também devem abordar o impacto das sanções impostas à Rússia durante a administração de Joe Biden. Mesmo que as restrições americanas sejam aliviadas, a Rússia ainda precisará enfrentar o desafio de se reconciliar com a União Europeia, onde a hostilidade prevalece em muitos setores. Machado assinala que a animosidade contra a Rússia tem raízes ideológicas profundas, que transcendem interesses econômicos diretos.
Embora a reunião no Alasca não tenha gerado um acordo de cessar-fogo, Lucena destaca que, no contexto do triângulo formado por EUA, Rússia e Ucrânia, é a Rússia que pode se dar ao luxo de esperar. A pressão sobre Ucrânia e Estados Unidos, que buscam soluções rápidas, pode se revelar uma vantagem estratégica para Moscou, que, conforme Lucena, não enfrenta uma urgência semelhante. Essa dinâmica temporal reflete um cenário em que o equilíbrio de poder pode ser moldado pela capacidade de esperar e, assim, influenciar o resultado das negociações.