EDUCAÇÃO – Violência no Rio de Janeiro: Estudo revela queda alarmante no aprendizado de alunos em favelas, comprometendo educação de crianças e jovens em áreas de risco.

Em um estudo inédito, pesquisadores revelam que a violência nas favelas e comunidades do Rio de Janeiro não afeta apenas a segurança e a qualidade de vida, mas também compromete gravemente o aprendizado de estudantes em escolas que operam nesses contextos. Os dados apontam que, ao alcançar o 5º ano do ensino fundamental, alunos que frequentam escolas localizadas em áreas marcadas por altos índices de violência apresentam um desempenho significativamente abaixo do esperado. Em língua portuguesa, a aprendizagem cai para menos da metade do que deveria ser alcançado em um ano letivo, enquanto em matemática o prejuízo é ainda mais alarmante, equivalente à perda de um ano inteiro de ensino.

O estudo, titulado “O Impacto da Guerra às Drogas na Educação das Crianças das Periferias do Rio de Janeiro”, é o primeiro a integrar relatos de diretores escolares por meio de um aplicativo da Secretaria Municipal de Educação, onde esses profissionais puderam registrar eventos violentos que impactaram suas instituições. Essa abordagem inovadora permitiu uma análise mais precisa dos efeitos da violência no desempenho escolar.

Os pesquisadores identificaram 32 escolas que operam em condições de grande violência, onde episódios de conflitos armados ocorrem com frequência, comprometendo o funcionamento regular das instituições. Segundo Tiago Bartholo, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a interrupção das atividades escolares é um dos fatores mais prejudiciais. “As escolas frequentemente fecham em decorrência de episódios violentos, resultando em faltas tanto de alunos quanto de docentes, e isso afeta diretamente o aprendizado”, explica.

Adicionalmente, a violência gera estresse significativo em estudantes e educadores. Bartholo enfatiza que os impactos não se limitam a interrupções, mas também afetam a capacidade de aprendizagem devido a fatores como insônia e ansiedade.

Na análise dos dados, as informações foram extraídas do Fogo Cruzado, um instituto que compila dados sobre tiroteios, além de resultados da Prova Brasil, que avalia conhecimentos em língua portuguesa e matemática. A metodologia compreendeu a comparação entre escolas situadas em áreas violentas e aquelas que enfrentam desafios semelhantes, mas que estão localizadas em contextos mais seguros. Isso permitiu isolar os efeitos diretos da violência sobre a aprendizagem.

Focando no ano de 2019, os pesquisadores buscaram evitar distorções que poderiam ser causadas pela pandemia de COVID-19, que impactou significativamente a educação em todo o país. Os resultados demonstram uma perda média de 7,2 pontos em língua portuguesa e 9,2 em matemática para estudantes do 5º ano em áreas de violência. Essas diferenças, segundo Bartholo, não surgem de uma hora para outra, mas constroem-se ao longo de toda a trajetória escolar.

Além das conclusões do estudo, é importante ressaltar que a maioria das escolas públicas do Rio de Janeiro opera em áreas afetadas pela violência armada. Um relatório recente aponta que quase metade dos estudantes do ensino fundamental e médio em escolas públicas da região é impactada pela violência, totalizando cerca de 800 mil crianças e adolescentes afetados. As consequências da violência armada nas escolas não podem ser ignoradas, exigindo uma atenção especial por parte das autoridades para garantir que o direito à educação, de cada criança, seja efetivamente respeitado.

Sair da versão mobile